Cedo chegamos para aquela que seria a derradeira pedalada antes da tão aguardada viagem. Já não fazia tanto calor e o horário de verão havia ficado para trás. Um passeio sem grandes ambições, muito mais próximo de um descanso ativo do que um treino propriamente dito. Pelo menos essa era a idéia. A sessão “mais do mesmo” iniciou novamente em São Pedro de Alcântara, em frente ao Bar do querido Zezo (que aparentemente abre seu boteco bem antes do dia raiar) que, enquanto gelava estupidamente aquela tão sonhada Pureza em garrafa, saíamos para pedalar pela singela região.

Continuamos a pequena jornada pela famosa Rua dos Tropeiros. Contam os antigos moradores da pacata cidade que há muito tempo, nas Guerras Clônicas, foi por onde marcharam os Stormtroopers no intuito de confrontarem os dissidentes Jedi na época da derrubada da República, período de pré-formação do Império galáctico. E, eu não duvido!, já que há buracos demais no início da bacana estrada e somente com uma chuva de tiros de rifles de blaster, tamanho estrago poderia ter sido feito. Tentando não cair no esburacado e escorregadio caminho, suamos aos montes até chegar à bela cachoeira.

O local é inspirador e chega a dar sono pela calmaria.

Terminada a Rua dos Tropeiros, retornamos ao centrinho de São Pedro pela SC-407 e seguimos agora em direção à bela Antônio Carlos. Passamos em frente ao Bar do Zezo novamente e bravamente resistimos à tentação de tomar já de manhã cedo, o majestoso guaraná. A idéia era “provocar a sede até não aguentar mais”...

Uma mínima subida inicial para então descer por um tempo bastante considerável. O mesmo inconveniente morro da Usina que tivemos o "desprazer" de subir na pedalada passada, agora o fizemos de cima para baixo e quase ficamos emocionados. Lugar melhor não há, sendo uma das descidas mais bacanas que conhecemos. Desde que, você não passe direto numa das curvas e vá parar sabe-se lá aonde. Desça com cuidado que a tentação de voar por ali é grande e não estamos em Smallville... que isso fique claro.

Uma rápida passada pelo centro de Antônio Carlos e mais poeira a ser engolida numa longa, inédita e simpática estrada. A região parece realmente ser mágica para quem gosta de uma boa pedalada em chão batido. Para qualquer lugar que você aponte o nariz, há sempre uma bela estradinha para você seguir. Diversão garantida aos quatro ventos.

Aqui o processo foi o inverso. Já descemos esse exagerado morro em outra oportunidade e não sei onde estávamos com a cabeça quando resolvemos subi-lo. Para quem gosta de sofrer, esse morro deve ser um grande ídolo. Se tudo fosse fácil, também não teria a mesma graça. Pensando na viagem e encarando o desafio como algum tipo de treino (contrariando a idéia inicial deste pedal) - sem reclamar e achando graça do momento -, baixamos a cabeça e pedalamos por uma eternidade morro acima numa inclinação que foge ao bom senso. Em delírio coletivo, quase sentíamos o aroma da Pureza gelada nos esperando enquanto penávamos em direção ao céu.

Mal acreditamos quando paramos de subir. Ali da região de Santa Tereza, após mais um trecho de estrada de chão, seguimos pelo escaldante asfalto até São Pedro apenas pensando no bendito guaraná.

Bambeando, pegamos as garrafas, uma para cada, e fomos beber sentados na praça sombreada - bastante cansados e saboreando o momento como nunca. Só não bebemos no gargalo por constrangimento em fazer tamanha imundície em praça pública num lugarejo onde aparentemente tudo é muito organizado e correto. Em contratempo, um casal de tucanos insistia em tentar nos acertar com aquilo que se faz quando se está com dor de barriga. Imagino que não é qualquer um que tem o infeliz privilégio de ser “cagado” por um tucano e de alguma forma nos sentimos honrados pelo bombardeio desnecessário. Sorte nossa, os exóticos pássaros serem bem ruins de mira. Para uma pedalada totalmente despretensiosa, até que saiu um passeio bem bacana. Amanhã de manhã (sábado, 24 de março) embarcamos para mais uma grande jornada sobre duas rodas, em mais uma viagem de nove dias por estradas catarinenses. Torçam ou rezem por nós, mas nada de gracinhas com bonecos vodus para furar nossos pneus. Sacrifícios para Thor são aceitos. Basta quebrar/queimar um CD original do Restart ou de qualquer dupla de sertanejo universitário (ou do Mobral) e pedir ao filho de Odin que leve a chuva para bem longe de nós, pois já bastam os anos anteriores. Faremos cobertura via Twitter com algumas informações em tempo real (desde que haja disponibilidade de sinal para celular) que vocês poderão acompanhar na página inicial do nosso site. Treinados ou não, seguimos agora para o nosso maior desafio...