Outro café da manhã deveras mixuruca tomado bem às pressas. Subimos para os fajutos aposentos e socamos as tralhas nos empoeirados alforjes saindo o quanto antes do ruinoso hotel sem sequer olhar para trás, indo direto para o supermercado renovar o nosso estoque de água. A tranquila Timbó possui mais de 35 mil habitantes e embora já tenha incorporado algumas características de cidade grande, ainda é uma pacata cidadezinha do Vale Europeu catarinense onde tudo funciona perfeitamente. Limpa, organizada e muito bem cuidada em todos os aspectos, fazendo jus a alcunha de “Pérola do Vale”. Seguimos para Benedito Novo chegando consideravelmente antes do esperado – o que nos deixou bastante encasquetados, já que havia a expectativa de uma grande subida no início da manhã e raramente a gente se engana para algo melhor. O curioso é que o "Benedito" do nome da cidade deriva do latim benedicto, que significa “abençoado” – mas tenham certeza que se refere somente para quem está de carro. Os desafortunados de bicicleta penam horrores para chegar até lá em riba... Até demorou um pouco, mas quando começamos a subir – não paramos mais!
DIA 3) DE TIMBÓ À APIÚNA – PASSANDO POR BENEDITO NOVO, RODEIO E ASCURRA...
Almoçamos muito bem num aconchegante restaurantezinho de comida caseira numa localidade chamada Alto Benedito Novo (que pela denominação pode se ter uma idéia de o quanto nós subimos). Empanturrados e sem vontade alguma de encarar o forte calor, reverenciamos a preguiça e aproveitamos o convidativo chão gelado da calçada de uma bendita igreja para tirar um histórico cochilo.
Renovados com a providencial sesta, demos continuidade a nossa aventurada jornada agora migrando para uma reconfortante estrada de chão, deixando o asfalto xarope da SC-477 para trás.
Foi uma longa e divertida tarde com o sol sempre nos acompanhando. Enquanto ele brilhou, nós subimos. Passamos toda a ensolarada tarde pedalando morro acima. Com os alforjes cada vez mais pesados, abusamos das marchas mais leves - o que fez o dia render pouco e parecer mais longo que o usual. Cada um no seu ritmo, pedalamos esse trecho um pouco mais separados e aproveitávamos os cada vez mais frequentes momentos de descanso para reagrupar o conjunto capenga.
O bondoso sol aliviou somente no final da tarde, um pouco antes de chegarmos à parte mais íngreme. Nesse ponto já estávamos cansados demais, inclusive preocupados, questionando se teríamos energia suficiente para completar a penosa etapa.
No vértice do interminável dia, encontramos uma boa alma com a qual papeamos por um bocado de tempo. Conversamos sobre várias coisas que entreteve o nosso pequeno descanso. Falávamos sobre o potencial do turismo ecológico da região e do andamento do projeto de uma tirolesa de quase 2 km, quando de forma inocente o simpático senhor deixou escapar alguma coisa do tipo – daqui pra frente só desce! São 10 km de descida sem dar uma única pedalada... Lacrimejamos por educação e também por que no fundo ainda temos uma alma esperançosa que crê em coisas absurdas, mas de fato não acreditamos naquela balela (10 km morro abaixo? Não mesmo!). Já fomos enganados tantas vezes com esse papo de “agora só desce” que o nosso cérebro rejeita esse tipo de inconveniência. De qualquer forma, demos o benefício da dúvida para o bem intencionado senhor e seguimos otimistas, embora bastante desconfiados. Se não subir mais, já está bom – pensamos resignados. O cenário seguinte é simplesmente inenarrável. Não foram os 10 km profetizados, mas chegou perto disso. Foi disparada a maior e mais emocionante descida que já fizemos. Por algum tempo esquecemos da regrada vida adulta e descemos felizes feito crianças e imprudentes como descabeçados adolescentes. Chegamos ao sopé do morro intactos e totalmente revigorados, entusiasmados como nunca. Num êxtase coletivo, cada um dava a sua versão da eletrizante descida numa animada e duradoura prosa.
A sensação de exaustão havia sumido e cruzamos a bacana cidade de Rodeio muito calmamente. Ainda havia mais um significativo trecho de pelo menos 15 km a serem pedalados, passando por uma estradinha de chão que segue paralela a BR-470. Satisfeitos com a cota de estrada do dia e até um pouco de saco cheio de tanto chão e poeira e já pensando no conforto do hotel, optamos por seguir pelo asfalto. Com pista simples e excessivamente movimentada, possuindo vários trechos sinuosos e muito mal sinalizada – a BR-470 é um verdadeiro pesadelo para nós que brincamos de bicicleta. Pedalamos o mais rápido que podíamos para aquele momento e acabamos cruzando a cidadezinha de Ascurra sem quase ao menos perceber. Chegamos a Apiúna por volta das 19h30, um pouco tensos pelo risco assumido de se pedalar de noite numa rodovia tão horrorosa, embora satisfeitos com a essa sensação estranha, de vários sentimentos misturados relativos a tudo o que passamos durante o duradouro dia. O hotel era muito bom e o restaurante ficava convenientemente a poucos passos de nossos quartos. A comida não foi das melhores, provavelmente sobras requentadas do almoço, mas comemos assim mesmo e saímos satisfeitos (um Chicabon depois de uma janta ruim sempre ajuda a melhorar a sensação). Roberto reclamou um pouco, mas não havia muito que fazer e o jeito foi se conformar. Cansados demais para se preocupar com a forte chuva que caía naquele instante, aproveitamos o sugestivo barulho de sono para irmos dormir um pouco mais cedo que o normal.
Terceira etapa concluída, muito cansados e ainda não acreditando nos quase 10 km de descida que fizemos sem ter dado uma única pedalada sequer...
Agora, em meio aos clics lindos desta viagem , o melhor de hoje, foi o do cochilo na igreja... No coments!
Grande abraço!!!!
A "estradinha" de chão pela qual subiram nem foi tão ruim, foi até bacana, além da paisagem relativamente bonita.
Mais um dia feliz pra vocês em sua aventura! Legal! ;)
Abraçoss
www.taxabike.blogspot.com
Parabéns por mais esse dia!
Ótimas fotos!
Tentando acompanhar o caminho pelo Google percebemos quão aquém está o software da realidade!
Vamos que vamos!
Mas é o São Benedito!! quanta subida???
se bem que quando se está cansado aparecer uma descida de 10km, a vontade deve ser mesmo de chorar hehehehe
abraços e boas pedaladas
Elton Xamã
Esse dia foi mesmo um êxtase coletivo, dia perfeito para pedalar, lugar com uma paisagem maravilhosa, um almoço simples mas gostoso, e o melhor de tudo foi o cochilo que tiramos na Igreja, acordei olhei para o Rodrigo e disse cara que cochilo gostoso, cheguei a roncar, ele, eu a fazer espuminha. Mais o melhor estava no final, a impressionante descida de quase 10 Km, foi adrenalina pura, cheguei ao final da descida com câimbra nos pés, uma sensação que não tem como explicar.
Roberto
Balneário Camboriú SC
Um grande abraço a todos .