Conhecendo melhor nossa "Santa & Bela Catarina" – a 2ª viagem... 7 de 9: Enrugados de tanta chuva...
Escrito por: Rodrigo Martins em 07/07/2010

Abri o olho, pisquei duas vezes e me certifiquei que estava vivo. Levantei da cama e parecia estar de ressaca - daquelas bem ruim! Em pé, minha perna levou algum tempo para se ajustar. Parece que meu corpo gostou da combinação deitado e dormindo e relutou em acreditar que haveria algum tipo de esforço físico naquele dia. Na rua, frio demais e uma chuva bem fininha, além do vento xarope. Assim como toda "boa" ressaca, aos poucos as lembranças do dia anterior iam brotando na minha mente. O que eu e o Fernando suspeitamos na noite anterior não demorou muito para se confirmar: a sociedade do anel estava desfeita. Marcelo piorou e não tinha a mínima condição de continuar. Ficamos meio perdidos por algum instante. Em nenhum momento de nosso planejamento consideramos a possibilidade de alguém ficar pelo caminho. O Roberto também não estava legal e parecia no momento, um sério candidato a abandonar a incomum pedalada. Durante o café, consideramos todos os prós e os contras. Roberto já havia decidido não prosseguir, mas foi pego de surpresa quando descobriu que os dementes do Rodrigo e do Fernando continuariam na insensata expedição. Enquanto arrumávamos as tralhas, Roberto brigava com ele mesmo. Pairava a dúvida entre o orgulho e o bom senso. A decisão era somente dele. Ninguém opinou. Novamente, somente perto do meio-dia conseguimos aprontar tudo. Aquela sensação de déjà vu do dia anterior incomodou um pouco. Marcelo pegou um ônibus até a rodoviária de Laguna, de onde seguiu de carro até Florianópolis. Vanderléia e o Bola vieram resgatar a pobre criatura enferma. Sentimos saudades do amigo, de verdade.

DIA 7 - DO FAROL DE SANTA MARTA ATÉ IMARUÍ PASSANDO POR LAGUNA E RASPANDO IMBITUBA VIA BR-101 NOVAMENTE...

O farol de Santa Marta, diz a lenda, é o maior das Américas e o terceiro do mundo em alcance (na frente inclusive do que o Comissário Gordon utiliza). Do horroroso hotel em que ficamos, tínhamos uma visão privilegiada da estrutura.

Achei até que a minha bicicleta estava com depressão. Parecia chorar a cada ciclo de pedalada. Ela e - nós também! Pelo menos na primeira sentada no banco do dia. O combo “chuva + areia de praia” revelou-se péssimo para uma boa pedalada e a perspectiva não era das melhores. De início tivemos que seguir viagem pela praia...

Por que pedalar pela estrada conseguia ser pior...

Naquele ônibus decrépito que estava logo atrás de nós - pairava o Marcelo, já com o humor recuperado, visto que logo estaria no aconchego de sua casa. Por um grande azar do Fernando e sorte nossa (por que rimos um bocado), o infeliz atolou sua bike e caiu na lama bem no momento que o ônibus escolar passava ao seu lado, bem lentamente e cheio de crianças malvadas sedentas por alguma coisa para rir e xingar. Logicamente Marcelo não perdeu a chance e gritou de dentro do coletivo – Olha lá, aquele trouxa caiu na lama!... hahaha, e o coro de risos e divertidos insultos foi prontamente seguido - além da cara de satisfação do Marcelo.

Foram quase 20 km por uma estrada muito ruim para se pedalar. Trechos com terra fofa, buracos demais e o tradicional vento contra. Pelo menos nesse início, a chuva deu uma trégua. A bicicleta do Rodrigo estava sem freio e a corrente trancava com alguma freqüência. Roberto reclamava direto, mas não sabia explicar o que era. A menos ruim, era a bicicleta do Fernando, mas também longe de estar 100%.

Aos poucos a estrada foi melhorando. Lugar extremamente belo aonde pedalamos cercados pela Lagoa de Santo Antônio.

Esperando a balsa e já avistando o centro de Laguna.

Ao contrário de Araranguá, essa travessia tivemos que pagar. Frio, muito frio e Já passavam das 14 horas. A prioridade era achar alguma oficina salvadora para dar um jeito nesses carros de boi que pedalávamos. A sorte sempre esteve ao nosso lado, mas desta vez ela caprichou! Rapidinho encontramos a melhor loja que poderíamos encontrar nesse momento de repleta desesperança.

“Recanto Bike”. Boa loja situada no centro histórico de Laguna, bem perto da Igreja Matriz. Ali mesmo, onde por muitos anos foi o melhor carnaval de rua do sul do país. Não sabemos se tal loja ainda existe, todo caso anota aí, que você pode precisar se estiver pedalando pela redondeza: (048) 3646 – 0688. Acredito que na região, é a única que trabalha com freio a disco.

Mecânico gente finíssima, que deu um belo trato nas nossas queridas bikes. Enquanto ele aprontava as magrelas, saímos para almoçar. Em sincronia, após estufarmos de forma merecida nossas panças de mamute, as moribundas bicicletas já estavam ressuscitadas. A essas alturas, Marcelo já estava em casa descansando. Falamos com ele por telefone. Tudo certo para ele e nem tanto para nós.

Seguimos nosso precioso destino. A sensação de pedalar com freios e marchas funcionando novamente era animadora. Uma nuvem da Família Addams parecia nos seguir, ou melhor dizendo: perseguir.

E foi só entrarmos na abençoada BR-101 que a chuva desabou de vez...

Foram praticamente 30 km até Imbituba. Esse trecho está praticamente todo duplicado, o que facilitou muito para nós, pelo menos deixando a pedalada menos tensa, afastando os monstruosos caminhões de nossos insignificantes esqueletos. Aceleramos o pedal ao máximo, a fim de evitar uma pedalada noturna pela sinistra BR. Roberto acompanhou bem, o que nos deixou bastante felizes, já que no início do dia ele cogitou desistir. Chovendo demais e bastante frio, mas pelo menos o vento deu uma folga. O dramalhão mexicano do dia anterior foi tão grande que nesse dia, mesmo com chuva e frio, estávamos nos divertindo à beça. Por Imbituba passamos apenas de revesgueio, já era início de noite e ainda faltava um bom trecho. Sorte termos almoçado muito bem. Do trevo de Imbituba até Imaruí são pouco mais de 30 km. No mapa rodoviário indicava estrada de chão, mas para nossa felicidade já está tudo asfaltado. É uma extensão bem bacana para se pedalar, já que contorna a Lagoa do Mirim. Imagino que seja muito bonito por lá, mas como não temos nenhum super poder de visão noturna, vamos ficar no “imagino” mesmo. Assim que contornamos a extremidade oeste da lagoa, o vento nos pegou de frente novamente e foi um inferno pedalar naquela hora. Levou uma eternidade esse pedaço e no finalzinho, quase chegando – uma bela e formidável subida que acabou com nosso resquício de energia. Chegamos depois das 20h na pousada – totalmente esgotados. Roberto ameaçou reclamar proferindo a miragem de um hotel que ele jura ter visto, mas os olhos de reprovação do Fernando e Rodrigo o fizeram balbuciar sozinho. Chegamos cansados, mas demasiadamente satisfeitos. Um belo e revigorante banho e saímos para jantar. A região é bacana, principalmente para quem já possui uma certa idade e quer fugir do barulho. Calmaria generalizada. Novamente estendemos a conversa até tarde da noite e dormimos muito bem. Desta vez Rodrigo sozinho num quarto, Fernando em outro e o Rei Supremo Roberto... dormiu na suíte presidencial.

Antepenúltima etapa cumprida, exaustos, murchos e satisfeitos.

Comentários
Qui, 08 de julho de 2010
Por: Sherman Leonardo de Mello
Fala ai galera... bacana d+ a narração da viagem... mas coloca o final aí - valeeeuu!!! aquele abração...
Qua, 07 de julho de 2010
Por: Delorme
Meninos, estou encantada com o roteiro de tal façanha, vocês estão se superando. Parábens, beijos.
Qua, 07 de julho de 2010
Por: Roberto Kist
Saudades !
Rodrigo sua memória é impressionante, só você mesmo para lembrar tantos detalhes. Fico lendo, lembrando tudo e dando gargalhadas sozinho, esse dia foi uma loucura mesmo; depois da superação nossa no dia anterior esse dia foi só curtição. Pena que o Marcelo na curtiu esse dia e o final da pedalada. Como é bom ter amigos, estou com saudades de pedalar com vocês. Essa viagem para mim foi o máximo e não vejo a hora da próxima.

Abraços as amigos!