Conhecendo melhor nossa "Santa & Bela Catarina" – a 3ª viagem... 4 de 9: inigualável momento...
Escrito por: Rodrigo Martins em 30/05/2011

Fingindo uma elegância que em nada combinava conosco, de chinelos de dedo e cabelos penteados, seguimos alinhados até o deslumbrante salão mágico, onde em poucos minutos tomaríamos o melhor café da manhã de nossas vidas. Ainda apalermados com a enormidade do local, enquanto pensávamos o que iríamos comer – torcíamos em silêncio para que o Roberto acordasse um pouco mais calmo. O poético bufê mais parecia uma praça de alimentação de um pequeno Shopping Center. Comemos tudo o que podíamos e bem mais do que uma vez. Se ajeitando na cadeira e massageando a pança de forma constrangedora, respiramos fundo antes de retornar para o nosso majestoso quarto. Em meio a uma bagunça que de certa forma era bastante moderada para os nossos padrões, batíamos cabeça no intuito de ajeitarmos nossas coisas. Marcelo e Fernando jogavam conversa fora apenas para quebrar o silêncio. Foi quando percebi que surgiu uma conversa séria demais para um início de manhã. Falavam sobre doenças crônicas e degenerativas de não sei quem e que em nada me interessava, até que percebi que estacaram no tema “diabetes”. Numa não reconhecida boa vontade de encerrar um papo extremamente chato, me senti na obrigação de intervir e educadamente perguntei ao Fernando: – Você sabe o que é diabetes? Num momento pensante e nada conclusivo, desconfiado com meu repentino interesse no assunto, resignado - deu a entender que não e assentiu com a cabeça dando a deixa para que eu prosseguisse. – Diabetes... Diabetes são as dançarinas do Diabo! Inconformados com a falta de graça do espirituoso momento, me fuzilando com os olhos, os dois colegas coçaram as cabeças e com as testas franzidas decidiram nada comentar para logo em seguida seguida, de forma relutante, todos se despediram do formoso quarto. De suas confortáveis e adoráveis camas, bem como da singela TV de LCD com seus belos contornos de 40” (Cartoon Network não foi mais o mesmo no decorrer da viagem). Enquanto isso, Roberto nos aguardava na garagem do hotel, matutando a idéia de passar ou não protetor solar...

DIA 4 – DE JARAGUÁ DO SUL À JOINVILLE PASSANDO POR SCHROEDER E PENANDO NA SERRA DO CANIVETE...

Pouco depois das 10h, os quatro mancebos reiniciavam sua preciosa expedição já acusando um incômodo desconforto na região do forévis. Cruzamos toda a cidade novamente (em torno de 10 km), não chovia e o trânsito naquele momento era aceitável.

Terra da WEG, Marisol, Malwee e do nosso apreciado Chocoleite – Jaraguá do Sul foi a cidade catarinense que mais se desenvolveu economicamente no último triênio. A cidade também integra o roteiro das festas de outubro com sua Schützenfest, ou “festa do tiro”. Danças típicas, grupos folclóricos, desfile dos clubes de Caça e Tiro e a mais inusitada gastronomia suicida: marreco recheado, repolho roxo, joelho de porco, chucrute... e, muito chope para ajudar a esquecer toda essa comida incomível que você hipoteticamente cogitou engolir.

Schroeder foi o destino seguinte. Um rápido giro pela pacata cidade de pouco mais de 15 mil habitantes, aonde só vimos plantações de arroz e banana. Pouquíssimas pessoas perambulando pela rua e segundo dizem, a população mais antiga ainda mantém o idioma regional – o alemão. - Alles gut? Alles blau!... - Perguntamos para o Roberto, sempre fazendo cara de poucos amigos. Seguimos por uma bela estradinha asfaltada até entrarmos na longínqua “Rua Joinville”, que cruza uma gigantesca planície de plantação de arroz.

Paramos inocentemente para uma rápida descansadela, aproveitando assim para esticar as cambaleantes pernas e aliviar a pressão nos músculos da anca. Ingerimos algumas daquelas barrinhas de cereais que horrorizam o seu paladar, numa desesperançosa tentativa de matar a fome. Estávamos exatamente na metade do caminho e o horário do almoço há tempos ficou para trás, deixando saudades e um vazio no momento. Um olhar errante para cima e uma gélida sensação percorreu nossos já maltratados quadríceps...

Uma considerável elevação formada pela Serra das Duas Mamas. Uma íngreme e assustadora subida por um corte de picada indígena muito antigo e que mesmo não evoluindo direito, ainda assim acabou virando estrada (numa visão bem otimista da coisa), atualmente servindo de ligação entre os municípios de Joinville e Schroeder.

A região é mais conhecida como “Serra do Canivete”, apelido dado pelos criativos Schoedenses. Perto da metade do intrincado caminho acima, já no meio de quase nada, uma bela e simpática senhora nos ofereceu água - retirada direto da bica. Enquanto ela gentilmente enchia nossas garrafinhas na sua cachoeira dedicada, descontraidamente brincávamos com o xodó da casa, o também simpático cão, Bob!

A região é de uma beleza sem igual e se alguém nos contasse que ali viveram os Elfos da Terra Média, certamente acreditaríamos. Roberto que aparentemente aprendeu a curtir o momento e nesse momento pedalava até sorrindo, deu uma falseada e acabou sofrendo uma pequena queda.  Prontamente desandou a reclamar... Mas dele mesmo! O que nos fez rir e nos deixou aliviado. - Ufa!...

Após a aventurosa descida, já no sopé da serra, nos deparamos com uma região totalmente plana e que foi extremamente afetada pelas fortes chuvas do início do ano. Em alguns pontos o cenário era de total destruição e impressiona quem passa por lá. Casas destruídas, diversos deslizamentos de encostas e pontes levadas pela enchente.

Já perto do final da tarde e ainda sem almoçar, tapeávamos a fome catando goiaba pelo interminável caminho. Um pouco mais a frente, uma inesperada curva ao contrário do que imaginávamos, nos aproximou novamente da encosta e começamos a subir mais um bom trecho. Encantados com a passagem, praticamente nem percebemos o acentuado aclive. A estrada ruim da "Serrinha" (nome do lugarejo, segundo os habitantes da vila Hobbit local) e o terreno extremamente lamoso, só tornou o momento ainda mais divertido. A chuva era moderada e intermitente, não atrapalhando em nada.

Quase escurecendo, encontramos um sinistro botequim aberto. Receosos e exaustos, paramos para descansar e comer alguma coisa. Pessoal muito bacana e que nos atenderam muito bem. Porém, as opções gastronômicas eram fantasmagóricas. Roberto - o corajoso, foi numa tal de “galinha velha” de aspecto bastante duvidoso. Pela forma como se lambuzou, quase acreditamos que estava bom.

Joinville é muito grande e levamos uma eternidade para cruzar a cidade. Inicio de noite de uma sexta-feira... o pior trânsito possível. A chuva apertou um pouco, o que acabou dificultando nosso deslocamento. Chegamos na frente do hotel perto das 20h, num estado lastimável. Passamos num posto antes e demos uma bela chiringada em nossas bicicletas, pelo menos para disfarçar. O hotel é bem bacana, com arquitetura estilo Oktoberfest. O quarto era gigante e confortável, sobrando bastante espaço para nós e nossas bikes. Revezamos entre tomar banho e cochilar. Perdidos no tempo, corremos até o shopping e enquanto (de forma merecida e já perto das 22h) saboreávamos nosso almoço, nossas fedegosas roupas eram tratadas no Lav & Lev. Alguns foram de Subway e outros na mais tradicional comida chinesa. Roberto, entre uma entreolhada e outra, tomou apenas um copinho de chope. Cansados demais para tecer qualquer tipo de opinião e totalmente concentrados na saborosa comida, apenas sorrimos intrigados. Em tempo: sem nenhuma reclamação, Roberto finalmente relaxou, curtiu o dia e num tocante momento de boa educação, apertou nossas mãos e disse: - Essa de hoje, foi a melhor pedalada de minha vida! Na risca, pegamos nossas roupas lavadas, cheirosas e passadas... e seguimos para o hotel. Ao reencontrar emocionados nossas estimadas camas... Um desmaio coletivo aconteceu.

Quarta etapa cumprida, num exaustivo e fantástico dia, caracterizando uma das melhores pedaladas que já fizemos...

Comentários
Ter, 07 de junho de 2011
Por: Francisco
Estou adorando acompanhar os relatos dessa cicloviagem e apesar das dificuldades e contratempos que acontecem mesmo dá inveja de vocês. Parabéns!
Qua, 01 de junho de 2011
Por: Éder Carvalho
Parabéns, moçada! Excelente relatório e fotos.
Qua, 01 de junho de 2011
Por: Odair
Saudações!

Muito obrigado por voces enviarem a foto pedida! Sou grato pela atenção!
Então, foi mesmo grande a destruição feita pelas chuvas que atingiram aquele local :( Nem quero imaginar as casas que foram atingidas por deslizamentos.

Abraços.
Qua, 01 de junho de 2011
Por: Waldson (Antigão)
Belíssimo pedal!

Dá gosto ver as bikes "bumdudas", desfilando como tanajuras pelo asfalto lisinho!

Que pena que ainda não fez sol!

Grande abraço "meninos"! Aguardemos os próximos dias!
Ter, 31 de maio de 2011
Por: Odair
hehehe.Coitado do Roberto! Deve ter machucado bastante :S
Mas mesmo assim, valeria a pena o esforço!
Abraço!
Ter, 31 de maio de 2011
Por: Jedson Eleuterio
Legal vocês chegaram em Joinville, minha terrinha abençoada. Voces fizeram parte do circuito de Cicloturismo do Piraí, o circuito sai do portico vai até o pe da serra do Canivete (serra das Duas Mamas para os Joinvillenses), e volta pelo percurso que vocês fizeram passando pela estrada Serrinha e retornando ao Pórtico. Abraços, sempre serão be vindos em Joinville
Seg, 30 de maio de 2011
Por: Fabio Almeida
Só hoje pude ler os quatro primeiros relatos. Estão ótimos! Aguardo os próximos!
Seg, 30 de maio de 2011
Por: Odair
Belas imagens, como de costume!
O nome de "Serra da Canivete" é bem sugestivo não.... a essas alturas da viagem, que lugar do corpo não estaria doendo...
Mas em troca ver esse entorno maravilhoso vale todo esse sacrificio.
Coisa que faltou foi a "chapa" da ponte que a tempestade levou.
A foto da borboleta é para ganhar o Oscar!
Parabens!
Seg, 30 de maio de 2011
Por: João Waldemiro
Show de bola o documento.
O Relato não se prendeu apenas a visão dos viajantes, mas sim, pela história e cultura das regiões visitadas.

Abraço.

João
Seg, 30 de maio de 2011
Por: vanderleia kist
Parabéns pessoal!!O Post de hj ficou muito legal! Nada como um dia perfeito para reanimar a turma!
Vanderléia