Enveredando pela Serra dos Tropeiros de Leoberto Leal
Escrito por: Rodrigo Martins em 14/03/2016

Notória por sediar a fábrica do cultuado Guaraná Pureza, Rancho Queimado situa-se 65 km distantes de Florianópolis e para chegar em seu distrito mais conhecido, é necessário uma beiradinha de quase uma dezena de quilômetros além, saindo da sua pacata pracinha principal em sentido oeste. Para pedalar por aquelas cercanias e voltar a tempo de filar a janta em casa é preciso madrugar e encarar a movimentada 282 serra acima - e a regra é a de sempre: quem estiver com menos sono dirige! Com todos chegando no horário combinado (algo pouco comum), conseguimos iniciar a brincadeira por volta das 7h30 em um friorento e azulado amanhecer que quase congelou as remelas de quem ainda queria dormir um pouco mais. A mesma estradinha de chão esburacada e repleta de curvas que descemos de carro para chegar no centrinho de Taquaras foi a que logo em seguida subimos pedalando. O ar gelado incomodava um pouco e nem a forte subida inicial foi capaz de aquecer as encarangadas carcaças. Pelo asfalto lisinho da BR descemos até a estrada que leva ao famosinho Mato Francês e de lá seguimos por um vazio no GPS, sabendo apenas que estávamos indo para o meio do nada em direção a Leoberto Leal, cruzando a então inédita para nós, Estrada dos Tropeiros.

A escarpada é longa e após uma breve e necessária pausa para o respiro, iniciamos uma íngreme e perigosa descida com relevo acidentado e repleta de curvas surgindo do nada a todo tempo. Sobral desapareceu sem deixar rastros e quando lá embaixo chegamos, o descompensado do downhill já estava descansado. Aportamos em Leoberto Leal perto do meio-dia e seguimos direto almoçar na única lancheria aberta da cidade. Enquanto o X-Alguma coisa estufado de bacon, calabresa e outras saborosas porcarias ia sendo preparado, ríamos do angustiado proprietário que praguejava incessantemente contra sua inocente TV que transmitia um jogo de futebol qualquer que sequer conseguia ganhar nossa atenção. Lanche bom e barato que teria sido muito melhor se não tivéssemos que pedalar tão logo em seguida. O tempo mudou completamente, saltando do inverno congelante do alvorecer para o um inesperado verão escorchante que castigou o quinteto pedalante nas primeiras horas da tarde. Com o sol a pino torrando nossas moleiras enquanto subíamos quase que infindavelmente, não tardou muito para que o nosso estoque de água terminasse, nos obrigando a mendigar nas isoladas casas da belíssima região. Perto do final da tarde sentamos pela última vez para o derradeiro lanchinho antes da última esticada morro acima. Marcelo, que na pior parte havia pegado carona numa possante e barulhenta Tobata, ria dos consternados pseudociclistas que choramingavam pelo exagerado maltrato de suas pernas.

Na preleção nos foi dito que subiríamos quatro grandes morros, o que não aconteceu - já que houve uma quinta e também um sexta morreba um tanto sofrida. Éder, que riscou o trajeto, ouviu algumas malcriações do Toninho enquanto custosamente tentávamos vencer a derradeira ladeira, terminada somente no início da noite e já com os faróis acessos. A parte xarope do dia foi a cansativa viagem de volta com a BR bastante movimentada, com filas e trechos parados, o que nos fez escambar para esquerda e seguir pela Varginha. A impressão era de que todos os carros estavam zanzando em todas as ruas numa desmedida movimentação que nunca presenciamos num final de domingo e a primeira coisa que fizemos ao chegar em casa foi ligar a televisão em busca do noticiário para ver se algo de anormal havia acontecido. Passado o susto (não foi o fim dos tempos desta vez...) e já de banho tomado e bandulho cheio, restou apenas mudar de canal até parar nos Simpsons e aguardar a chegada do João Pestana.

Comentários
Seg, 14 de março de 2016
Por: Eleonésio Diomar Leitzke
Mais um relato honrado a fama de vcs, divertido e com altas fotos. Mas que viadagem é essa Marcelo, pegar carona com tobata?????