O contorno das lagoas de Imaruí e Mirim
Escrito por: Rodrigo Martins em 12/04/2016

Numa gelada manhã, em fins de agosto, encasquetamos de contornar as lagoas do Mirim e do Imaruí, lá pelos arrabaldes do sul do estado em Imbituba, Laguna e cercanias. A ideia era dar uma longa esticada girando acima dos cem quilômetros sem penar morro acima, deixando a dificuldade apenas para o multifacetado vento sul, que por aquelas bandas sopra irritantemente pelos quatro cantos. Pelo generoso acostamento da BR-101 iniciamos a jornada saindo de terras imbitubenses em ritmo acelerado rumo a tão falada ponte de Laguna. Bem ao longe já se consegue enxergar a imponente estrutura que foi esticada sobre o canal das Laranjeiras na Lagoa de Santo Antônio. Com pompas de requintada por ter sido a primeira no estilo “estaiada em curva” erguida em terras tupiniquins, a ponte Anita Garibaldi possui dois mil oitocentos e tantos metros, 136 estacas escavadas e 716 aduelas pré-moldadas ao longo dos seus 52 vãos e diverte quem pedala por ela, embora o vento forte e contínuo cause uma sensação de desconforto já que em alguns momentos a sensação é que os reles e curiosos pseudociclistas serão soprados lá de riba. Já em solo seguro, afastados da lagoa e finalmente rodeados por mato, continuamos nossa empreitada pedalando ainda por cinco quilômetros no movimentado asfalto da translitorânea até descambarmos por uma ruelazinha a direita e enveredarmos rumo a Pescaria Brava, que até então não sabíamos já se tratar de um município.

De colonização portuguesa, Pescaria Brava possui algo próximo de uma dezena de milhar de habitantes, basicamente constituídos de descendentes de açorianos, italianos e germânicos e apesar de ser considerado um dos povoados mais antigos da região sul de Santa Catarina, só teve sua emancipação de Laguna instalada em 2013. Pedalamos um bocado até cruzar todo o longo povoado, que com tantas casas enfileiradas e uma infinidade de pessoas caminhando ao léu, mal dava para os apuradinhos fazerem xixi na estrada. A essa altura da brincadeira já fazia um considerável calor e a perspectiva de um bom lugar para almoçar não era boa. No intuito de acalmar os bandulhos e para tanto, fazermos um discreto lanchinho, entramos na primeira (e única) bodega aberta que encontramos. Local escuro e malcheiroso, com ares de assombrado e administrado por um aprendiz de zumbi que respondia com grunhidos tudo aquilo que lhe era perguntado. Nas minguadas prateleiras, pinga e cigarro era o popular e desenterrar algumas mirradas barrinhas de chocolate e um refrigerante de framboesa tamanho mini não foi uma tarefa das mais fáceis.

 - Ei, passarinho? Ô? Psiu... Passarinho? Demos de ombro e tentamos ignorar o insistente sujeito aparentemente bastante entusiasmado com a preciosa cachaça local e que cismou com os exóticos bicicleteiros nos abordando assim que saímos da bodega dos horrores. Ao reiniciarmos o pedal, uma desorientada aprendiz de motorista que manobrava bizarramente seu carro pela movimentada quadra do que parece ser o centrinho de Pescaria Brava, quase atropela a desafortunada trinca que mal tinha acabado de digerir os fabulosos Snickers garimpados nas prateleiras do além-mundo do inusitado mercadinho. Chegamos em Imaruí faltando vinte minutos para a primeira hora da tarde e rodamos bastante até encontrarmos algo aberto - seguindo várias informações desencontradas de nativos alheados que aparentemente muito pouco sabem do local aonde vivem. Na sorte, encontramos um restaurantezinho bastante escondido que foi a salvação e embora não tivesse batatas fritas, ainda assim ficamos com a sensação de melhor almoço do mundo, tamanho era a nossa fome.

Depois de uma sonequinha básica de dez minutos estarrados na grama, voltamos nossos narizes agora em direção a Imbituba, pedalando o mais perto da margem possível. Com as energias recarregadas e com a lagoa sempre a nossa direita, seguíamos num ritmo bom até sermos acossados por um terrível vento contra que nos fez penar horrores no trecho final da nossa tradicional pedalada dominical. Com os compassos bambos, finalizamos a brincadeira por volta das 15h e assim que amarramos as bicicletas nas viatura, bebericamos um suquinho gelado e tão logo seguimos caminho para casa, pois a vontade de se jogar na cama e dormir era grande. Mas não sem antes encarar uma movimentada 101 com tanta gente dirigindo de forma imprudente que chega a dar medo.

Comentários
Qua, 13 de abril de 2016
Por: Márcio Jorge Spies
Parabéns! Espetacular!!