O volteio do Morro do Baú
Escrito por: Rodrigo Martins em 25/08/2015

Em 2008, um grande aguaceiro gerou a maior catástrofe climática já ocorrida em Santa Catarina. Um volume de água absurdo desencadeou uma avalanche de barro que devastou toda a encosta do Morro do Baú, ocasionando mais de trinta mortes somente nas regiões de Ilhota e Luís Alves, deixando um eterno rastro de tristeza e dor em toda a comunidade que vive em seu entorno. Imponente com seus mais de 800 metros de altitude, o morro abriga uma fauna riquíssima com trechos de Mata Atlântica praticamente inexplorada, ganhando notoriedade com o infortúnio que virou notícia em rede nacional comovendo o país inteiro na ocasião. O Morro do Baú é área de preservação permanente e nele se situa o Parque Botânico – criado na década de sessenta e que se encontra fechado desde o desmoronamento do final de 2008, mas segundo dizem, já com projeto de revitalização em andamento. Outrora muito procurado por alpinistas, trilheiros e rapeleiros – o cenário de abandono vem magnetizando vândalos e usuários de drogas, bem como os infaustos caçadores e surripiadores de palmito - constantemente vistos perambulando pela região. Pelo menos cinco dezenas de anos serão necessários para que a natureza se recupere totalmente, e isso numa visão bastante otimista – dizem os especialistas. Com todo esse clima pesaroso, acabamos associando a subida do Baú como uma beiradinha difícil de se realizar, o que descobrimos não ser verdade. Desconfiados com o que estava por vir, iniciamos a brincadeira bem cedo, quase tiritando e com a tradicional fumacinha saindo pela boca - alertando para um início de manhã mais gelado do que gostaríamos. Com as padarias e bodegas fechadas na exageradamente pacata Ilhota, quem saiu de casa sem tomar café acabou passando um pouco de fome. A gratuidade da balsa causou certa estranheza e virou assunto até o atoleiro seguinte, aonde patinamos um bocado para sair do lugar.

O preguiçoso sol que demorou um tanto para levantar fez o friozinho perdurar por boa parte da manhã, aumentando nosso afeto pelas mangas compridas. Longas retas numa empoeirada estrada ditaram a primeira parte da bem ritmada pedalada que só teve o seu primeiro descanso num mercadinho já nos arredores da comunidade do Braço do Baú. Chocoleite, paçoca, Chokito, Bono e Coca-Cola estrelaram o nosso saudável cardápio matinal que foi arrotado muito satisfatoriamente. Apesar da profunda cicatriz que temos ciência de existir pela dimensão da tragédia, pelo menos no trecho em que pedalamos a localidade está bem maquiada e é difícil perceber que algo tão ruim como o desbarrancamento de sete anos atrás aconteceu. Bastante atentos com tudo que nos rodeava e pasmados com as intermináveis e vertiginosas plantações de banana no sopé da dita morreba, mal percebemos quando iniciamos a tão esperada subida.

O aclive é longo, mas pouco íngreme e mesmo os menos laboriosos vencem o barranco sem muita dificuldade. O tempo ajudou e assistimos um céu absurdamente límpido, poucas vezes presenciados por nós desta maneira nessas nossas andanças por solo catarinense. Antes de começar a descer aquilo que tão agradavelmente subimos, adentramos numa pequena trilha para contemplar uma ostentosa cachoeira e sem ao menos podermos apreciar adequadamente o hipnotizante cair das águas – corremos de uma nuvem de malfadados mosquitos canibais e nem uma barrelotagem emergencial fez o foco dos minúsculos e neurastênicos voadores mudarem de direção. Raras foram as vezes que terminamos uma empreitada com a prazerosa sensação de termos descido mais do que subido - sendo que o volteio todo beirou apenas cinco dezenas de quilômetros e sequer cansou. Ótima opção para um domingo preguiçoso e descompromissado, com belas paisagens e ótimas estradas com raríssimos carros cruzando o nosso caminho e importunando o nosso gracejo. 

Comentários
Ter, 25 de agosto de 2015
Por: Éder Strutz
Quem diria que pedaladas.com.br também é cultura!!! não fazia ideia de algumas informações sobre o local, Parabéns galerinha... e vamos que vamos com os pedais.