Trilha da Pedra Branca dos infernos!
Escrito por: Rodrigo Martins em 02/02/2011

De alguma forma nos sentíamos incomodados, pois aparentemente todo mundo já fez essa tal de Trilha da Pedra Branca. Numa breve espiada no site TrilhasBR e percebendo que faltam apenas poucas figurinhas para completarmos o álbum – resolvemos (sem muita convicção) arriscar essa. Diferente do que imaginávamos, a resenha do Peixoto nos deixou otimista e partimos cedo, pouco depois de o sol nascer. Parecia ser mais um daqueles terríveis dias ensolarados de verão.

Com o canto do olho, bem de longe, demos uma leve espiadela no distinto morro da Pedra Branca e sem encarar muito para não dar azar, murmuramos positivamente: - Tomara que não seja até lá em cima... Tomara que não seja até lá em cima... Rimos antecipadamente, pois estava na cara que iríamos nos ferrar nessa pedalada. Com o roteirozinho da trilha instalado no GPS, iniciamos o suposto pedal sem muita preocupação (pelo menos no que se refere a nos perdermos...). Logo de início inflamamos o cocuruto: onde diabos inicia essa trilha?

Pois bem... Levantaram essa desventurada cerca isolando totalmente a entrada da trilha. A solução? Sim... pular a desgraçada. Receosos de encontrar um mal humorado gabiru com um bacamarte carregado, ofendido por ter sua cercania invadida, disparamos estrada acima sem muito enrolar e nada de olhar para trás...

O início foi bacana. Estrada boa e até então, para a nossa total surpresa, nenhuma inclinação exagerada. Mal deu tempo de absorver essa lastimável conclusão e começamos a subir absurdamente. A estrada tornou-se horrenda num piscar de olhos. Crateras do tamanho de uma Kombi se formaram em vários pontos da estradinha e as chuvas recentes deixaram o solo extremamente escorregadio. Sem chance de pedalar, nos flatulamos todos para empurrar. Em locais mais abertos, o caminho até melhorava e por alguns breves momentos arriscávamos uma sutil pedalada.

Pelo que ouvíamos do lugar, acreditamos que durante o trajeto encontraríamos motos, jipes e entidades motorizadas afins... Impossível qualquer maquinaria dotada de motor se locomover por ali. O único carro que consigo imaginar trilhando por aquela redondeza seria somente mesmo, um DeLorean voador.

Há vários longos trechos impossíveis (ou improváveis... depende de sua habilidade e o quanto você preza pela sua vida...) de se pedalar. E, se não fossem por alguns poucos trechos – teríamos zerado a pedalada! Ou seja, teríamos conseguido a incrível façanha de empurrar as bicicletas por todo o trajeto!

E isso não é a pior parte. Se você tem complexo de Garfield e detesta aranhas... passe longe dessa trilha. Impressionante a quantidade dessas aterrorizantes criaturas. E não estou falando de aranhas pequenas e simpáticas. As mal-encaradas! Grandes e obesas, porém ágeis como um raio. Super aracnídeos com olhos vermelhos, mira laser e visão de raio-X que lhe permitem um sorrateiro bote certeiro e mortal. Algumas eram inclusive aladas e nos perseguiram durante nossa fuga implacável. Quando parávamos para respirar, éramos atacados pelos seus malévolos comparsas! Mosquitos pré-históricos, quase do tamanho de uma barata, sedentos por sangue humano, dotados de probóscide com ponta de diamante capaz de perfurar qualquer carapaça. Seu zunido era quase ensurdecedor e que nos causou uma terrível desorientação momentânea. Chocados, debandamos para onde os nossos narizes apontaram. Adianto que de nada servem os repelentes normais, apenas os enriquecidos com urânio... se é que vale o aviso.

Superado o trauma artrópode-insectos from hell, nos deparamos mais a frente com algo no mínimo intrigante. No meio do nada, uma rampa cimentada. Realmente, aquele trecho em particular, parece ser de outra dimensão. Além de não fazer sentido nenhum aquele calçamento, sabe-se lá como conseguiram levar cimento até lá em cima. Parece-nos que alguma civilização alienígena de raciocínio inferior, tentou se estabelecer por ali e percebendo que nada havia para se colonizar, abandonaram o questionável projeto de calçamento do morro e foram procurar um mundo mais interessante para fecundar.

Aos poucos, as primeiras visões panorâmicas foram se projetando...

Pensamos em desistir várias vezes, mas já era tarde demais. O pico não parecia estar muito longe e o tal ataque final ao cume só deixou claro uma coisa: ali não é lugar para uma bike! Há trechos que de tão estreitos - não permitiam que as bikes passassem. Bicicleta nessa trilha é apenas um coadjuvante desnecessário. Um estorvo que você carrega do início ao fim, sem nenhuma utilidade. Já um pouco tristes e quando menos esperávamos...

O topo! É algo fantástico! A visão lá de cima é fora do comum. Chega a causar aflição de tão alto. De lá, você avista pequenos monomotores e helicópteros voando num plano mais baixo que você. Em dias bons, enxerga-se facilmente toda a ilha de Santa Catarina, de Naufragados a Daniela.

Nossa água havia acabado há varias horas e a maior decepção do passeio foi não ter encontrado pelo menos um picolezeiro trabalhando lá por cima. Frustrante, de fato. Deslumbrados e felizes da vida - iniciamos a descida que é feita por outro caminho. O trecho inicial é um pouco ruim, mas logo melhora e proporciona uma descida bastante fluente. Chega de empurrar as bikes!

E com todo aquele sufoco pra subir, depois de tanto descer, você pensa: - poxa, foi divertido pra caramba! A trilha termina numa estradinha bem bacana, nas proximidades da Colônia Santana.

Já se encaminhando para casa e com o corpo rejuvenescido, abastecido pelo precioso líquido (na falta de Pepsi, uma Coca-Cola bem gelada serve bem...), ao longe contemplamos o imponente morro...

Sim! Realmente era lá em cima. Trilha extremamente bacana. Vale a pena ir de bike? Penso que não... “De a pé” você vai se divertir bem mais. Por outro lado, a sensação de desafio cumprido – de levar as bikes até o cume, talvez faça valer o esforço. A segunda parte do pedal também ajuda a compensar o delírio inicial. É de fato um pedal incomum. Tão incomum que você cansa mais os braços que as pernas...

Comentários
Seg, 14 de fevereiro de 2011
Por: Vanessa
Salve salve salve Amigos Rodrigo Fernando e companheiros...

Tô a mto mto tempo prá entrar no site de vcs... e hj conversando com um amigo, comentei sobre o site, amigo esse que tbém pedala, e agora a esposa o segue... a exemplo deles, meu digníssimo esposo, que talves vcs conheçam (o Fabiano) hahahaha... comprou novamnete uma bike e estamos planejando a compra da segunda prá podermos pedalar a dois, ou melhor, a três (não posso esuqecer do nosso baby) que se não for junto, não poderei desfrutar de tais passeios ciclísticos, pois não temos quem fique com ele... Bom, na verdade, ainda vou ler melhor o site de vcs, aos pcos irei "falando"... Mas já gostei do que vi por aqui... Bjo em vcs!!!
Dom, 06 de fevereiro de 2011
Por: Waldson (Antigão)
Ah, ah, ah! Lógico que essa trilha foi mapeada pelo brilhante Pero Vaz de Caminha em suas andanças pelo continente, enquanto aguardava o valente Cabral.
Nossa, quando você citava os insetos gigantes, lembrei-me daquelas séries televisivas "A invasão dos..." que povoou o aparelhinho na décaca de 90.
Bravos amigos, confesso humildemente que eu teria retornado. Detesto pedalar com teias de aranha grudando pelo rosto!

Esse foi um pedal (pedal???!!!) de desbravadores mesmo.
Legal é a visão lá de cima, belíssima!

Mas, legal mesmo é a volta, cheia emoção da descida e a sensação de vitória.

Parabéns!

Grande abraço.
Qui, 03 de fevereiro de 2011
Por: Roberto
Puxa essa pedalada maravilhosa só foi possível pela desistência do Fernando de pedalar em Balneário Camboriú, nesse dia a pedalada combinada era para ser a trilha do Morro dos Macacos, com cachoeira, ovo de codorna na conserva e até picolé Rssss, mais vale a pena ver essa loucura dos meninos.


Roberto
Balneário Camboriú
Qui, 03 de fevereiro de 2011
Por: Luiz Henrique Ribeiro
Caras, que coisa impressionante! Surgiu-me uma dúvida: Já subiram o Morro da Cruz pedalando? Pelo menos, deve ter a maior partes asfaltada...hehehe

Só quero saber como vcs conseguiram passar desapercebidos pelo "Predador".

[ ]'s
lher
Qua, 02 de fevereiro de 2011
Por: Reginaldo Rossini
Parabéns pela aventura!! Que visual lindo lá de cima...abraços e boas pedaladas!
Qua, 02 de fevereiro de 2011
Por: Marco Nunes
Neste texto senti a verdade nua, crua e odiosa, ao contrário de outro lá atrás :)

Ôceis são doidos! Eu subi lá com meus 20 aninhos e "a pé" e já considerei um trabalho Hercúleo, quem dirá com bike! Mas vejam pelo lado positivo: alguns dos pecados cometidos nas benevolentes descrições de outras trilhas foram remidos nesta aí "quase toda impedalável" :D

Abraços a todos.
Qua, 02 de fevereiro de 2011
Por: jean k.
dae bunitões, lembra q certa vez eu disse q havia subido ate la , e pedalando, pois entao, foi na epoca daquela minha gt azul.. kkkk.. mais ou menos ou menos na époa q estes mosquitos citados surgiram... mas o pedal vale a pena!!!
abraços....
Qua, 02 de fevereiro de 2011
Por: Vanderleia
Muito bom... mas o que é esse relato do ataque de aracnídeos e mosquitos????só pra rir mesmo... nada exagerado... quanta criatividade !!
Qua, 02 de fevereiro de 2011
Por: Peixoto
Meus amigos... encarar a Pedra Branca no verão, não é pra qualquer doido. Mas a título de informação, essa trilha era na verdade uma estrada que permitia que até os fuscas mais valentes chegassem próximo ao topo e podia ser "pedalada" até o fim (claro que o preparo físico tinha que estar muito bom).
Qua, 02 de fevereiro de 2011
Por: fabiano da silva costa
Lindo o seu texto saudoso cavaleiro jedi, ainda tenho as cartas que me mandastes guardadas para rir futuramente.
Subir com as bike até lá, só coisa de vcs mesmo, são meus heróis.
Bjão nos 2!
Qua, 02 de fevereiro de 2011
Por: Edson Luiz da Costa
Voces foram os ciclistas desbravadores deste magnifico morro...imagino o sufoco que voces passaram empurando as bikes morro acima...só de imaginar fico cansado...mas enfim as imagens que vcs fizeram lá do alto é muito bonita..!
Parabéns por mais essa façanha.
abraço