Eis que toca o telefone... Bem que poderia ser alguém convidando para ir à praia amanhã – pensei. Que nada, eram as duas insensatas criaturas, numa incomum empolgação pós-réveillon, convidando para a primeira pedalada do ano. - Nesse calor dos infernos? Tentei argumentar. A caixinha de Bis, sabor limão (existe sim!), que eu estava saboreando ficou até com gosto estranho depois que eles falaram que a intenção era sair às 5h da madrugada. Fui o mais direto possível: - Quero dormir, pobres diabos! Fui simpaticamente ignorado e a contragosto aceitei o indigesto convite, pois sei bem que o fator teimosia dos dois comparsas transcende qualquer conceito de bom senso e o melhor mesmo é se conformar. Levantei sorrindo, e pelo que me lembro – isso nunca me aconteceu. Ouvi falar uma vez que a demência coletiva é contagiante. Pois bem, 5h eu estava na casa do Fernando e para minha surpresa ele já estava pronto e isso também nunca havia acontecido. As 5h da manhã, pedalando? Um momento para se refletir, certamente. Depois que você se acostuma com a idéia, até acha bacana. Estávamos pedalando super bem, nos sentindo os deuses zumbis do pedal, até que numa sinaleira encosta um carro com 5 alegres lindas modelos, todas empolgadas com seus Smirnoff ice da vida e nós bebericando nosso constrangedor Gatorade. Ah... Lindos olhos verdes de reprovação e sorrisos debochados por pensar – que idiotas, pedalando a essa hora... uhuu!... Fizeram-nos sentir como uns retardadinhos. Tudo bem. Pelo menos nos divertimos. Iniciado o pedal, o foco das conversas se referiam a noitada da virada de ano, ainda (infelizmente) muito fresca na nossa cabeça. Esse ano o grupo se dividiu. Os vassalos solteiros seguiram seu rumo à Laguna, sul do estado ("What happens in Laguna, stays in Laguna"...) - e os Senhores feudais casados, desfrutaram tudo do bom e do melhor no camarote da Pizza Bis em Balneário Camboriú. Fofoca posta em dia, disfarçamos a remela do canto do olho e seguimos pedal adiante.

Mais a frente, encontramos o Marcelo que atrasou um pouco (bastante, na verdade). Mas como normalmente somos nós que não chegamos no horário, poupamos o amigo da ladainha, porém sentimos certo tom de vingança no ar... Como sempre, foi uma longa esticada por aquela estrada horrorosa de paralelepípedos infernais que segue até São Pedro. A felicidade chega somente quando avistamos o portal de entrada da cidade, pois sabemos que a partir dali – tudo é asfaltado.

A tímida névoa da alvorada até nos deu a esperança de um dia sem sol. Desnecessário comentar que fez um sol do caramba e que nada adiantou sair às 5h da manhã, já que os três “Zé Graça” ficaram mais de uma hora enrolando cansados no bar do Zezo, comendo pastel e tomando Coca-Cola e rindo das presepadas do ano novo... Sim, belo exemplo – sabemos.

Asfalto é bom, mas não é o que gostamos. Curtimos mesmo é uma bela estradinha de chão. De pança cheia, iniciamos a parte bacana do pedal. Perfeito para iniciar o ano! Pouca subida e muita descida... O calor já estava incomodando e a cidra vagabunda de 1,99 ainda circulava no nosso piançado corpo.

Felizmente é uma região sombreada e o ar puro parece ter limpado nosso organismo...

O trecho é curto, porém extremamente divertido. Algo em torno de 7 minutos descendo. Necessário somente um bom freio e um pouco de bom senso e não se empolgar demais nas curvas é aconselhável. Segue o vídeo para ilustrar melhor o caminho que fica exatamente em algum lugar entre São Pedro de Alcântara e Antônio Carlos (a imagem tremulante não é mal de Parkinson de quem filmou ou sequela da noitada do dia 1º... é que realmente o solo é bastante irregular):

A parte seguinte não foi tão bacana. Asfalto, movimento intenso de carros, sol deprimente e um vento contra que pareceu ser eterno.

Uma rápida descansadela em Anthony Charles city e continuamos nosso rumo, cozinhando no forte sol em cima de nossas bikes. Detalhe da economia do lugar: por essa região, a Coca-Cola de 1 litro é bem mais barata que a de 600 ml...

O desconfortável trecho final pela BR-101 sob o forte sol de perto do meio-dia causou alucinações em alguns de nós (nada que um Nescau gelado não cure!). Feliz o momento que chegamos em casa e esfriamos o cocuruto com um belo banho frio. Foi um bom início de ano. E que assim sempre “seje”, para todos nós, insignificantes humanos. Boas pedaladas nesse novo ano para a visionária classe ciclística! Aproveitem bem, pois talvez no próximo ano - em 2012... o mundo acabe.