Alpenhof 2016
Escrito por: Rodrigo Martins em 24/02/2025

Essa é a historieta de cinco remelentos ciclistas que em meados de um verão de outrora, rodaram à meia-luz numa ainda sonolenta Antônio Carlos ouvindo a contragosto seus primeiros cacarejos. Pouco antes da alvorada, rumaram enfileirados em direção ao famoso morro da Usina já com os primeiros pingos de suor se misturando com aquele melequento protetor solar da promoção. O ano era 2016 e já não me recordo de todos os detalhes, mas sei que para iniciar uma pedalada madrugadora na terra dos verdes vales e hortaliças, é certo que muito desagradavelmente tive que acordar cedo, muito cedo! Lembro que havia uma Cannondale, duas GT, uma Caloi e uma Santa Cruz e cada uma subiu no ritmo que seu tutor quis, ou no ritmo que ele pôde ou ainda no ritmo que o cardiologista imaginário do grupo sugeriu. Lá em cima, na ocasião, já em São Pedro de Alcântara, descobri que o saudoso Zezo havia se aposentado, nos deixando muito precocemente órfãos da tão bem quista Pureza em garrafa de vidro, o que gerou uma grande comoção e lamentos até os dias de hoje. Um pouco inconformados e por vezes choramingando, seguimos comentando o ocorrido rumo ao que para mim, na época, parecia ser um lugarejo com nome de chocolate suíço de gosto ruim. Já de início passamos por uma estrada de terra que o próprio GPS fingiu desconhecer. Desconfiados, continuamos seguindo caminho via Alto da Varginha até chegarmos na ilustre morreba que todos na época falavam.

O tal do Alpenhof é um lugarejo sito em terras santo-amarenses com uma infinita subida postada à direita do final de quem desce a estrada da Varginha e apesar da maltratante inclinação o lugar é fantástico e entre uma bufada e outra, parávamos tolamente para boquiabertos contemplar a bela vista. Pedalamos num ritmo lento e constante com poucas descidas e longas subidas. O forte calor de um rigoroso início de fevereiro maltratou o quinteto pedalante e qualquer sombra mais graciosa foi motivo de parada. Mendigamos muita água pelo caminho e de lanche, fomos salvos por sanduíches e frutas trazidos de casa. Contudo, a pirambeira do Alpenhof foi só a metade do caminho. Na estrada geral de São Pedro, os vagais do grupelho tramaram em cortar caminho, entretanto havia uma cisma de alguns em desbravar novas veredas naquele dia e mesmo a contragosto de outros, assim foi feito. Humanos locais deram informações desencontradas que só nos confundiram e assim seguimos incertos por lugares com pouco cacoete de caminho. Muito familiarizado com as estradas e trilhas da região, fomos sabiamente guiados pelo estimado Beleza (vulgo Leandro, entidade antônio-carlense que é responsável pelos bons tratos em nossas bicicletas) e com ele, adentramos em propriedades particulares sem ao menos perguntar se podia. Pedalamos por estradas que pareciam não ter saída, ladeamos pequenos riachos e cruzamos várias porteiras em companhia de um vento que tinha medo de soprar e o calor que estava de rachar aproveitou o ensejo e ficou ainda pior.

Em algum momento a tão bela estradinha virou trilha e Aquele-que-não deve-ser-nomeado passou muito mal com a quentura e preventivamente paramos até que o indivíduo se recuperasse totalmente. Com a vegetação alta fazendo frente, tivemos que apear e embrenhar as bicicletas por um longo emaranhado de mato e apesar do incômodo empurra-empurra, seguíamos satisfeitos por ao menos naquele momento galgar por terras sombreadas. Não avistamos cobras, nem lagartos ou algum bichano baio, tampouco Godzukis ou entidades maiores e ao que parece, as malditas gangues de insetos voadores de zumbido irritante derreteram com o desgastante calor e fomos poupados de um costumeiro ataque de uma ensandecida mosquitama.

Mortos de fome e sede, naquele instante sonhávamos com algo muito, mas muito gelado! Quando os aloucados do downhill avistaram a estrada que finalmente ressurgiu, logo se apressaram na longa descida da Rocinha e muito lá na frente quando finalmente os alcançamos, a melhor Coca-Cola trincada do mundo já estava na mesa servida juntamente com deliciosos salgados do tamanho da nossa fome, aparentemente no único boteco aberto de toda a região (ufa!). Sem fome e sem sede, o restante do trajeto foi feito embaixo de muita chuva, numa trovoada escandalosa com ventos ignorantes que refrescaram o finalzinho da cansativa e ensolarada empreitada. Em casa, somente após as 18h30 bebendo toda água gelada que encontrei pela frente. Outra pedalada dessas, - somente no inverno! - Murmurei sem pestanejar para mim mesmo antes de dar tchau e agradecer aos colegas pelo belo dia pedalado.

 

 

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