Antônio Carlos é um belo e sossegado munícipio situado nos arrabaldes da capital catarinense e qualquer bicicleteiro que se preze um dia já pedalou por lá. Cicloturistas, downhillzeiros, o pessoal do cross-country (XC), a gangue da BMX, a velha guarda de Monareta ou os empolgados de Barra Forte que pedalam mais rápido que nós... seja qual for sua tribo pedalante e para quaisquer direções que sua nariganga aponte, há sempre um bom caminho para pedalar ou até mesmo uma caprichada trilha para se desencontrar; rios, cachoeiras e até uma fábrica da Coca-Cola para idolatrar. Colonizado por germanos que por lá se perderam em 1830, o pequeno município foi desmembrado de Biguaçu em 1963 e mantém até hoje as características clássicas de outrora, seja na arquitetura, na culinária ou no tal dialeto Hunsrückisch que nem os locais entendem. É a terra das hortaliças, dos parques aquáticos, do futebol amador, do Beleza Bike e também da boa cachaça. Antônio Carlos é um bom vizinho das igualmente encantadoras São Pedro de Alcântara, Angelina e Santo Amaro da Imperatriz. Essas quatro esverdeadas localidades são cercadas por montanhas e exageradamente ricas em belezas naturais, repletas de áreas com muita vegetação e paisagens incríveis. Há infinitas possibilidades de estradas, trilhas e caminhos entre si e nessa senda podemos passar praticamente uma vida inteira pedalando todos os finais de semana sem repetir um único trajeto sequer. Descobrimos os caminhos de Antônio Carlos há quase duas décadas e desde então virou um prazenteiro costume pedalar por lá. Sem rumo, de passagem ou para onde nosso esquizofrênico GPS mandar, costumamos aproveitar bem as quatro estações do ano rodando por seus atalhos rústicos e suas infinitas morrebas em frequentes incertas ciclísticas pela privilegiada redondeza.

De dezembro a março,

o Verão:

Época em que o zombeteiro astro radioso costuma pegar pesado com os nossos cocurutos. As noites ficam mais longas e é nesse período que os malevolentes mosquitos iniciam sua invasão. Costuma chover bastante e as fortes trovoadas assustam os não amigos de Thor. Protetor solar e repelente passam a ser tão importantes quanto o capacete e convém deixar a capa de chuva em lugar de fácil acesso. É tempo de férias!, no entanto costumamos pedalar menos, priorizando estradas planas em dias mais amenos, muitas vezes optando pedalar pela charmosa e silenciosa noite das cercanias antônio-carlense.

De março a junho,

o Outono:

O céu fica mais alaranjado, o tempo refresca e as folhas das árvores começam a cair. Ventanias e nevoeiros aparecem com mais frequência e já não chove tanto. As andorinhas vão embora, as cobras se recolhem e voltamos a acordar cedo para os pedais dominicais. Época boa para subir as pirambas e também afanar banana, goiaba e laranja pelos descaminhos da região.

De junho a setembro,

o Inverno:

Durante a gélida invernada, convém sempre seguir o conselho da sua mãe e pedalar muito bem agasalhado! Na glacial Antônio Carlos não chega a nevar, mas beira o 0°C vez ou outra. Se ficar enfermo por conta da friagem, uma Cibalena costuma resolver. Assim como os enigmáticos gambás e morcegos que aproveitam a época para hibernar, com as noites mais longas que os dias costumamos dormir mais e tentar acordar cedo no auge da invernia é uma luta praticamente perdida. Queimar a língua com Nescau volta a ser moda nos agora espaçados pedais e quando queremos ser chiques, levamos chá de jasmim bastante quente nas pedaladas mais tremelicadas.  

De setembro a dezembro,

a Primavera:

Nem tudo são flores na mais bela das estações, pois espirramos em maior quantia. É a época em que o sabiá-laranjeira canta mais cedo, as borboletas e abelhas reaparecem e os teiús despirocam a correr por aí. Com os dias se alongando e as temperaturas ficando mais agradáveis, costumamos girar mais pelas belas estradinhas de Antônio Carlos, vez ou outra cruzando propriedades rurais até dar de cara com alguma porteira. Em dias mais quentes, voltamos a escutar as sinfonias de coaxos no retorno as nossas bacanas pedaladas noturnas.

Em tempo: fotos de pedaladas antigas e ocasionais pela região de Antônio Carlos datadas de mais de uma década e divididas pelas respectivas estações e suas cores. “4 estações” são também: os famosos quatro concertos para violino de Vivaldi, o tal Padre Vermelho; uma música chata pra caracas de Reginaldo Rossi; o quarto álbum de estúdio da banda Legião Urbana; um disco de gosto duvidoso da dupla Sandy & Júnior e um livro do estimado rei do terror, o grandioso Stephen King!

Bônus de informação inútil: Na China há 5 estações, na Índia apenas 3 e na Lua nenhuma.