Conhecendo melhor nossa "Santa & Bela Catarina" – a 3ª viagem... 6 de 9: traquinagens do destino...
Escrito por: Rodrigo Martins em 04/07/2011

“Raiou o sol, olha o mar... que alegria”...

Levou algum tempo para ajustar meus desorientados pensamentos e (decepcionado comigo mesmo) descobrir que estava cantarolando uma música da Deborah Blando. Duas décadas atrás acho até que era apaixonado por ela, e naquela época, quem não era? Era cedo e a irritante melodia não saía da minha cabeça. O quarto todo fechado ainda permanecia escuro e o gélido e barulhento ar-condicionado ligado simulava bem o clima de um nostálgico inverno. Marcelo perambulava de lá para cá, aparentemente lavando roupa ou exercendo alguma atividade doméstica parecida. Arrisquei uma caminhada até a sacada e por muito pouco não fiquei cego. Então percebi o porquê do estranho devaneio musical de gosto duvidoso... Já acostumados a eternos dias horrorosos, meus olhos penaram a se acostumar com um dia tão límpido. O prenúncio de um dia bom desta vez parecia ser verdadeiro. Foi a minha vez de abrir as cortinas e tocar o Fernando para fora da cama. Ficou tão feliz com o ensolarado dia que nem reclamou. O quarto do hotel era gigantesco, porém muito estranho. Aliás, o hotel era todo estranho. Embora, tenha lá seu charme peculiarmente bizarro... Com formas quadradas assimétricas, ao caminhar sobre o chão torto, invariavelmente temos uma falsa sensação de embriagues. A janela do banheiro, inacreditavelmente é virada para dentro do quarto. Num quarto triplo, enquanto um dos seus inconvenientes amigos faz palavras cruzadas de forma relaxada sentado no precioso vaso, os dois desafortunados restantes são obrigados a sugar pelas suas infelizes narinas todo o desagradável odor do momento. E, ainda por cima, ilustrados com os efeitos sonoros da mais solene digestão. O hotel estava vazio e tomamos um café bastante caprichado praticamente sozinhos. Cavaquinho (ou orelha de gato, ou cueca virada, ou crostoli, ou sabe-se lá como você chama isso...) foi o tom do momento dos glutões. Com tempo de sobra, aproveitamos para ajeitar as trouxas e reorganizar os alforjes. Na TV, “Tratamento de Choque” (besteirol com Adam Sandler e Jack Nicholson) nos fazia sorrir quando intercaladamente prestávamos atenção. Aproveitamos o espaçoso quarto para fazer ali mesmo a manutenção das sofridas correntes. Acredito que a camareira deve estar nos xingando até agora... Por volta do meio-dia e desta vez já emporcalhados com protetor solar, demos início ao sexto dia da nossa terceira viagem por terras barrigas-verdes...

DIA 6 – DE SÃO FRANCISCO DO SUL À BALNEÁRIO BARRA DO SUL PASSANDO POR LUGAR NENHUM...

Apesar do horário tardio, saímos despreocupados. A distância não era tão longa nesse dia e a certeza de não haver nenhum morro nos trazia algum conforto. Muito bem vindo foi o sol, porém o forte calor dificultou um pouco o início da pedalada.

Mesmo de óculos escuros, nossos olhos demoraram algum tempo para se acomodarem com tanta luz. Felizmente nossas pupilas se regularam a tempo de podermos admirar as belezas femininas que desfilavam descontraidamente pela Prainha da ilha encantada...

Passando pela Praia Grande e seguindo em frente pela avenida das dunas, enfrentamos uma infindável reta de pouco mais de 20 km. A areia fina e fofa (muito difícil de pedalar) e o vento desfavorável mal foram percebidos. O encantamento de seguir viagem a beira-mar prevalece sempre sobre as adversidades...

Ou quase sempre...

Pedalávamos tranquilamente, apenas contemplando a paisagem do Parque Estadual do Acaraí e divertidamente se distraindo com o barulho do belo e formoso mar. A calmaria só foi quebrada quando repentinamente ouvimos uma grande explosão e que fez nossas bicicletas trepidarem. No instante pensei... – Estamos sendo atacados! Viu? Falei que o Osama não havia morrido. Essa foi a maior lorota desde aquela historinha do homem ter pisado na lua em 1969. Teorias de conspirações a parte, por que alguém jogaria uma granada em nós? O Roberto é um pouco chato às vezes, mas também não é para tanto. Passado o susto, nervos acalmados e após o nada agradável diagnóstico, várias lamentações a seguir. O pneu do Marcelo explodiu e sem ter muito que fazer, ainda assim tentamos de tudo (sem sucesso) para reanimar o moribundo Continental Race King 2.0 (made in China). Novo em folha, comprado exclusivamente para essa viagem. Traquinagens do destino...

Um breve momento de inconformismo generalizado e resolvemos seguir com a vida. Marcelo, numa fineza de educação e civilidade, “gentilmente” nos obrigou a seguir em frente. Era a vez do seu momento de introspecção. O destino sempre nos dá uma força e invariavelmente as coisas sempre se ajeitam de uma maneira positiva para nós. Nesse dia, não poderia ser diferente.

Resignado com o momento, Marcelo seguiu carreira solo numa inusitada pernada enquanto os pseudo-super-heróis aceleraram deserto a frente para tentar salvar o dia. Muito mais a frente, já na civilização, buscávamos uma fina alma disposta a nos ajudar.

Enquanto isso, 12 km atrás, num feliz acaso, Marcelo consegue uma salvadora carona com um afortunado casal. A boa alma do Sr. Teixeira (e sua apropriada Ford Courier) minimizou o drama do dia. Felizes por estarmos todos juntos novamente, já quase no final da tarde, paramos numa bela padaria e comemos qualquer coisa fingindo que aquilo era o nosso almoço. Ainda sem sucesso na aquisição de um novo pneu, pois além de ser um local bastante despovoado – era um infeliz domingo. Roberto conversava com algumas pessoas enquanto acompanhávamos desconsolados o desenvolver dos fatos sentados na calçada. Bem ao longe vi um pequeno pote, provavelmente de Danoninho ou algo parecido. Sem mais o que fazer e para ajudar a passar o tempo, falei bem alto ao oráculo dos bicicleteiros: - vou jogar essa pedrinha e se cair dentro do pote é sinal que conseguiremos o pneu! Joguei a tal pequena pedra de forma displicente e para minha surpresa - caiu certeiramente dentro do pote. Impossível – pensei. Descrente com um novo sucesso, apenas para confirmar o acaso – falei: - Se acertar novamente, conseguiremos um novo pneu! Marcelo e Fernando arregalaram os olhos quando acertei o longínquo tiro pela segunda vez. Todos pensaram: - será? Segundos depois, aparece o Roberto feliz da vida com o sorriso estampado no rosto: - Consegui cara! Consegui o pneu. Meu amigo ali vai lá pegar... Amigo? Melhor nem perguntar... Meia hora depois, o fantástico e benevolente Aldori Cláudio – o bom samaritano local -, nos aparece com um singular pneu semi-novo de marca diabo, mas que nos serviria muito bem. Perfeito! Alguns poucos minutos depois, tudo montado e ajeitado e prontos para seguir viagem novamente.

Empolgados com o feliz desdobramento dos acontecimentos, aceleramos o pedal seguindo por um estradão de chão até encontrar a BR-280, já no início da noite. O movimento intenso de veículos nos deixou bastante apreensivos. Após longos 6 km no acostamento horroroso da BR, entramos na SC-495 que consiste no principal acesso à Barra do Sul. Pior impossível. Reclamamos cedo demais do acostamento, pois nesse trecho ele sequer existe. Ficamos um pouco mais aliviados somente 10 km à frente, quando fugimos do intenso e inesperado trânsito local, seguindo caminho por uma estradinha secundária. Vento contra, frio e chão de areia molhada só ajudaram a aumentar o drama. Mais dez eternos quilômetros ainda por pedalar. Cansados e com fome, pouco depois das 20h, num balneário praticamente deserto, estacionamos nossas bikes na frente do bacana hotel. Como éramos os únicos e infelizes hóspedes, numa breve negociata, Marcelo conseguiu nos arranjar em ótimos quartos individuais. Após o tradicional (por falta de opção) X-Salada, dormir foi a constante dali para frente...

E eu que sou o “burro”, pensou aparentemente o obtuso animal... Quando na calada da noite, desconsolados, encontramos a ilustre figura... 

Sexta etapa cumprida. Cansados, porém secos e semi-bronzeados e cada qual hibernando em seu quarto sozinho...

Comentários
Ter, 20 de setembro de 2011
Por: leo
Belíssimo pedal rapaziada! O nosso Brasil é realmente muito belo, e tem muita coisa a se explorar.
Parabéns!
Qua, 13 de julho de 2011
Por: Marcia
Adoro acompanhar as aventuras de vcs. Parabéns, as fotos são lindas e muito bom os comentários.

abraço.

Marcia
Sex, 08 de julho de 2011
Por: Waldson (Antigão)
Ufa, enfim um dia ensolarado!!! E, para rimar, com pneu estourado! Que sufoco, hein! Nessa hora um retroz de linha de pesponto e uma agulha grossa quebrariam um bom galho! Acho que quebraria uma "árvore". Ainda bem que pintou a salutar carona.
Mas o que me chamou a atenção foi ver as bikes enfileiradas, como que cochichando uma com a outra "Vamos pregar uma peça neles!"

Parabéns por mais esse dia!

Abraços
Seg, 04 de julho de 2011
Por: Maicon
Ae, jovem galera do pedal

já que estou sem bike por enquanto, depois do indesejado furto, posso matar as saudades das pedaladas conferindo as viagens de vocês. Que barbada, Marcelo, o jeito foi caminhar então? Espero que se nessa caminhada algum reporter o tenha encontrado, que envie mais rápido o jornal para galera.
Continuem pedalando e ao estacionar as bikes, se puder cerca-la com arame farpado com 10000 volts, façam mesmo.
Abraços, Maicon
Guabiruba-SC
Seg, 04 de julho de 2011
Por: Jedson Eleuterio
Parabéns, galera estava ansioso pelo post, vamos lançar a campanha queremos ver o corpo do Osama. Valeu. Parabéns ao Roberto, seu comportamento vem melhorando a cada dia.
www.jedbike.blogspot.com
Seg, 04 de julho de 2011
Por: Vanderléia
É isso aí pessoal!!! Muito bom... e por favor não demorem tanto para postar o próximo dia. Abraços
Seg, 04 de julho de 2011
Por: João Doggett
uhauhauhauhauhauhauhau...
Por que demoraram tanto pra postar? não sabem que tem gente esperando? achei que era só eu que não acreditava na ida do homem a lua. uahaha, sensacional o post! e olha só... deborah blando continua bem pegável. vi na tv, altas. e é daí da terra de vocês. Floripa! afortunados...
Abraço, amigos.
João.