Sexta-feira, feriado, final de tarde e chovendo horrores. O caos estabelecido e uma coceira na cabeça de preocupação. Todos pareciam agitados demais na aniversariante e outrora sossegada capital de Santa Catarina. Focado na bagagem toda arrumada na última hora, conferi tudo mais uma vez tentando afastar o irritante sentimento de estar esquecendo algo importante. Os alforjes estavam mais vazios que nos anos anteriores, porém mais pesados e isso me intrigava de uma forma não muito boa. Um caprichado lanche de despedida antevendo nove eternos dias vivendo à custa de migalhas (com o perdão do exagero, naturalmente). Fernando atrasou como sempre e muito estranho seria se isso não acontecesse. Marcamos de nos encontrar às 18h na casa do Marcelo e nem de perto conseguimos cumprir o estabelecido. Roberto, o bom samaritano da rodada, veio de Balneário Camboriú para entre outras coisas – nos buscar. A cidade estava praticamente parada e intermináveis filas ganhavam forma na BR-101. Roberto demorou um pouco mais do que gostaríamos e ainda tivemos que ver o Marcelo amarrar nossas estimadas bicicletas no suporte do carro num mau humor do cão. Um belo exercício à paciência. Dentro do carro, Roberto despejava uma seleção das músicas mais horrorosas que já tivemos o desprazer de ouvir. Até hoje não sabemos se ele curte essa bizarrice sonora da moda ou se a idéia era apenas nos irritar. Jantamos por volta das 22h na cada vez melhor Pizza Bis e saímos com a pança a ponto de explodir. Parecia a última refeição de quatro infelizes presidiários prestes a reencontrar Joey Ramone no lugar aonde Ronnie James Dio hoje governa. Dormimos (ou tentamos) na casa do Roberto e assustados ficamos ao contemplar a desorganização do sujeito. Sequer havia iniciado a montagem dos alforjes. Passava das duas da manhã e ele ainda zanzava de lá para cá na busca por coisas perdidas. O barulho da chuva era um tormento. Traumatizados pelos anos anteriores, estremecíamos ao considerar todo aquele inferno aquático novamente. Marcelo, que foi para a cama bem mais cedo, foi o único a acordar com aparência de feliz. Antes das 6h já estava inervando aqueles que ainda tentavam dormir um pouco mais. Levantamos contrariados e bastante sonolentos. O primeiro sorriso foi esboçado somente quando percebemos que não chovia no momento e a possibilidade de um belo dia ensolarado fez tudo mudar. Iniciamos a nossa quarta jornada por terras catarinenses exatamente as 7h50 de um tranquilo sábado em Balneário Camboriú. Na saída, alguém comentou que os alforjes estavam mais vazios e mais pesados, o que me tranquilizou. Sinal que estávamos em harmonia.
DIA 1) DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ TORRANDO NO SOL ATÉ MASSARANDUBA - PASSANDO POR ITAJAÍ, NAVEGANTES, PENHA, PIÇARRAS, BARRA VELHA E SÃO JOÃO DO ITAPERIÚ...
Logo de início uma absurda subida prenunciando adequadamente o que estaria por vir no decorrer desta recém-começada viagem. Apesar de termos dedicado algum tempo de treinamento objetivando um melhor condicionamento físico, ficou bem claro que a nossa preparação ficou um pouco aquém do que realmente precisávamos e ter percebido isso tão cedo causou alguma inquietação. Cruzamos uma Itajaí em obras, sendo bem maquiada para a Volvo Ocean Race, o maior evento náutico do mundo. Os moradores pareciam entusiasmados com o acontecimento e saímos com uma impressão muito boa do lugar. Cruzamos o rio Itajaí-Açú de balsa e pedalamos por um bocado de tempo na cidade de Navegantes com o vento antipaticamente sempre soprando contra.
Seguimos de cabeça baixa tostando o cocuruto no forte calor de um cruel sol de meio-dia. Passamos pelos balneários de Penha e Piçarras, parando para almoçar bem mais além, já quase desesperados de fome, apenas na última quadra da longínqua Barra Velha.
Após um considerável descanso, continuamos nossa aventura apresentando alguns sinais de desgaste em virtude do maltratante calor. Despedimo-nos do litoral e nos aventuramos por um pequeno trecho na porção norte da BR-101. - Há quanto tempo já estamos pedalando? Alguém afetado com o exagerado sol na cabeça perguntou. - Bastante, mas não o suficiente para termos chegado em Nova Iorque... Alguém mais lúcido respondeu.
Pedalamos por mais 25 km num asfalto bem bacana pela SC-474. Roberto, que apresentava os sinais de cansaço mais aparente, pedalava um pouco atrás. Nesse ponto a água praticamente acabou e não encontramos nenhuma birosca aberta, o que nos obrigou a racionar as preciosas gotas que sobraram pelo restante do caminho.
Para quebrar um pouco a monotonia do asfalto e criar uma pequena variação em cima do que foi feito na viagem passada, já que acabamos repetindo esse pequeno trecho – seguimos por uma bela estradinha de chão que ganhou muito a nossa simpatia no início. Pelo menos até começarmos a subir.
Uma longa, inclinada e inesperada subida - já quase no fim de nossas forças. Penamos muito na parte final do trajeto. As paradas para respirar eram curtas, já que demônios em forma de mosquito não nos davam sossego. Repelentes nesse caso, só os enriquecidos com urânio. Desde muito cedo na estrada e já bem perto de anoitecer, naquele momento estávamos consideravelmente cansados. Uma longa e íngreme descida era justamente o que nossos abalados ânimos precisavam. O trajeto bacana ladeira abaixo nos fez chegar a Massaranduba completamente revigorados. Cruzamos a pequena cidade um pouco após as 18h, já com os faróis das bicicletas ligados. As ruas completamente vazias nos fez crer que todos estavam na missa ou brincando de The Walking Dead em algum sombrio lugar pela região. Ajeitamos as tralhas no mesmo hotel que ficamos no ano anterior e após um rejuvenescedor banho, seguimos direto para o supermercado em passos acelerados. Garantido o rancho da noite, voltamos para o hotel para finalmente podermos jantar. Na ocasião, encaramos um inusitado X-Egg “aberto”. Apesar da estranheza de comer um lanche com garfo e faca, saímos satisfeitos com a simplória, porém saborosa refeição. A calmaria da pequena cidade fez o sono chegar bem antes do esperado. Depois de um longo dia com praticamente 100 km pedalados, uma noite de sono certamente seria pouco.
Primeira etapa concluída, razoavelmente cansados e com a pele fumegando, embora tivéssemos viajado lambuzados com protetor solar fator 45 da Turma da Mônica.
Muita bacana! Abraços a todos!! ;)
Nao parem nunca!!!! Nem de pedalar, nem de postar os relatos! Faz bem pra vcs. Faz bem pra nos. Instiga a por o pe, pedal e pneus na estrada!
Adorando e ja aguardando novos relatos!
Abç
confesso que fiquei me imaginando no grupo, naquele primeiro momento do relato, onde ocorreu atraso, foram dormir tarde, alforges desarrumados, etc...não sou muito fã dessas coisas, pois costumo ser muito pontual, e tento ser organizado, fazendo o possível para não atrasar um minuto sequer qualquer atividade que seja. Mas, parece que depois que começa a pedalada tudo se "ajusta" hehehe.
abraços amigos!
Elton Xamã, direto do Pantanal Sul-matogrossense!
Quanto ao pedal em si, não há o que comentar tamanha é a beleza das fotos e o caráter impecável da narrativa. Fui acompanhando a narrativa enquanto ia colocando as cidades que vocês mencionavam no Google Maps, como se fosse eu a pedalar... muito legal! Show mesmo! Pelas minhas contas foram aproximadamente 100 Km de pedal, com as bikes carregadas e vocês ainda dizem que não estavam bem treinados?! Imagine se tivessem!!!
Agora fico na ansiedade dos próximos dias.
Grande abraço do Antigão!
Um grande abraço!
Rock Waltrick
Obrigado por partilhar esta grande aventura com a galera!
Desejo que continuem neste belo espírito e estarei de olho nos seguintes relatos :)
Abraço,
Dézinho
Roberto
Balneário Camboriú SC.
Quando vocês anunciaram que iam começar a viagem, eu lembro que em todo o sul do país estava prevista chuva, e aqui em Porto Alegre realmente chovia pra caramba. Mas pelo visto deu tudo certo nesse primeiro dia.
Parabéns!!
É sempre gratificante pra mim abrir a caixa de email numa 2ª Feira e ver o email de uma galera q curte uma boa diversão em cima das MARAVILHOSAS BIKES.
Esse trajeto de vcs, eu ja fiz eles varias vezes tb, embora em dois bikers, vcs ja em quatro é uma forma da gargalhada ser mais continua hehehehe.
Parabéns e mantenha-me sempre informado, uma dia vcs terão o prazer de me aturar num pedal hshs (brincadeira).
Um forte abraço.
" Bons meninos vão para o céu, Mountain Bikers á qualquer lugar."
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