Aparentemente, aqui em Santa Catarina, cada município é obrigatoriamente capital de alguma coisa. Além de ter sido a primeira colônia italiana do Brasil, São João Batista é a capital catarinense do calçado (um dos maiores polos calçadistas do país com mais de 150 indústrias do setor situadas em seu entorno). Foi a cidade tupiniquim que mais cresceu em termos populacionais nos últimos cinco anos, além de ter sido cidade pioneira no uso de urnas biométricas (grandes jossa!, de fato). Toda essa ladainha foi ouvida de uma entusiasmada moça que metralhava um assunto atrás de outro sem parar de falar por um segundo sequer, bem na hora do café, com os nossos cérebros ainda processando a idéia de estarmos acordados. Quem me dera poder fazer o desjejum numa biblioteca, bem abaixo de uma imponente placa de “SILÊNCIO”, folheando um gibi do Tio Patinhas e tal. O café não foi dos melhores, embora tenha tido cavaquinho. Subimos as escadas do pequeno hotel sem reclamar de dores pelo corpo inteiro e isso naquele momento era novidade. Algumas bicicletas precisavam urgentemente de uma boa oficina e como o destino tende a sorrir para nós durante essas longas jornadas, eis que precisamos apenas atravessar a rua. Fernando, que adquiriu o estranho hábito de sempre ficar sem freio durante as nossas viagens, necessitou trocar as pastilhas, entre outros pequenos ajustes. Roberto é uma espécie de hipocondríaco do pedal, e, enquanto não convenceu o pobre mecânico a encontrar um defeito em sua bicicleta – não sossegou. A calmaria dos últimos dias fez o movimentado centro de São João Batista nos causar estranheza com carros demais para o nosso agora acalmado gosto. Provavelmente abreviando uma surdez que era para vir somente na velhice e socando o fonezinho de ouvido no máximo, ouvindo RAMONES (com a apropriada Gimme gimme shock treatment) - demos início a penúltima e animada etapa da longínqua expedição iniciada aparentemente tanto tempo atrás...
DIA 8) DE SÃO JOÃO BATISTA À BRUSQUE (HEY HO, LET’S GO!...) - PASSANDO POR NOVA TRENTO E GUABIRUBA...
A primeira parte do dia foi uma esticada pelo asfalto de pouco mais de 10 km até Nova Trento. Uma pequena e bela cidade colonizada por imigrantes italianos e que possui apenas um pouco mais de uma dezena de milhar de habitantes. Lugarejo bastante conhecido pela comunidade pinguça em geral por sua fabricação e comercialização do tal vinho colonial neotrentino.
Nova Trento ganhou destaque em âmbito nacional após a canonização do que é considerada a primeira Santa brasileira, o que me deixa confuso já que Amábile Lúcia, a Madre Paulina - é de origem italiana. O Santuário da Santa Paulina, beatificada em 1991 pelo Papa João Paulo II, tornou a pequena cidade como a principal referência do turismo religioso no estado. Aproximadamente trinta mil fiéis peregrinam todos os meses até o bem estruturado complexo religioso. O movimento de devotos é mais intenso no segundo domingo de julho, data dedicada à Santa e aonde acontecem romarias e missas especiais. A cidade é repleta de pontos históricos importantes como a Igreja Nossa Senhora de Lourdes, a réplica do casebre de palha onde Madre Paulina viveu, o engenho em que trabalhou, museus e diversas capelas relacionadas com sua história. E quer saber? É também a capital catarinense do turismo religioso, conforme lei estadual de mil novecentos e bolinha...
Do belo Santuário, seguimos por uma desconhecida estradinha de chão que desemboca nas proximidades da SC-486, aproximadamente meio caminho entre Botuverá e Brusque. Para variar, de início, uma grande subida. A única do dia e nada de exagerado (se comparado com dias anteriores) e só reclamamos por causa do cansaço acumulado. Nesse ponto da viagem, bufar era moda entre nós e qualquer ameaça de elevação já causava aflição. O tempo carregado também causava preocupação, ainda que tenha chovido por apenas alguns poucos minutos. Quem acompanha nossas historietas sabe do trauma que desenvolvemos em relação à chuva. Vide viagens anteriores.
No meio do nada, num local que parecia a floresta de Endor (e tenho quase certeza de ter visto um Ewok correndo...), cruzamos por uma inusitada rave, ou o que sobrou dela. Pelo aspecto dos cidadãos remanescentes, deve ter sido uma festa e tanto!, gerando inclusive um pouco de inveja no grupo de espírito festeiro, o que acabou evidenciando a necessidade de equilibrarmos melhor essa nossa desproporção festa/pedal.
Um pouco após as 13h30, já bem próximo ao centro de Brusque, encontramos um restaurantezinho bem bacana para estufarmos adequadamente as nossas panças. Infelizmente, um grupo de ogros glutões fez um considerável estrago no que parecia ter sido um fantástico bufê, sobrando para nós apenas a idéia de um bom almoço. Não faltando o tradicional arroz e feijão, o resto a gente releva. Na rua, céu nublado e bastante calor. Continuamos nossa cicloviagem com uma mão no guidão e na outra - um Chicabon, que não durou sequer duas bocadas. O traçado curioso nos fez passar perto do hotel, embora estivéssemos ainda um pouco além da metade do caminho.
Contornamos a periferia de Brusque, seguindo para o lado contrário e agora pedalando em direção a Guabiruba. Cruzamos algumas pequenas comunidades como Lageado Baixo e Aimoré, e desafiando o bom senso – atravessamos a ponte mais horrorosa da história e não ter despencado junto com a tortuosa e estranha construção, foi de fato uma surpresa.
Do centro da simpática Guabiruba até o hotel foram pouco mais de 10 km que pedalamos com o maio prazer, apesar do vento xarope soprando contra. Chegamos cedo, tranquilos e nada cansados - o que foi estranho, principalmente por que já estávamos instalados no confortável hotel antes mesmo das 17h. Após tomar um demorado banho e desarrumar as tralhas largando tudo no chão no maior estilo “dane-se!, amanhã é o último dia”, ficamos sem ter o que fazer. Entediados, cada um arranjou algo para passar o tempo. A minúscula TV causava até desânimo e os mais sábios aproveitaram o ocioso tempo para tirar uma renovadora soneca. Na viagem passada, cruzamos também por Brusque e na ocasião jantamos numa pizzaria bastante chinfrim, da qual falamos horrores e tal. Tipo de lugar que a gente sempre reclama, mas invariavelmente acaba voltando. Sorrisos abertos ao lembrar que faltava apenas um único dia enquanto caminhávamos a lentos passos em direção ao hotel.
Penúltima etapa concluída, aonde ouvimos RAMONES, comemos cavaquinho, demos um “oi!” para a Santa, almoçamos sobras, cruzamos uma ponte capenga, pedalamos mais rápido e chegamos mais cedo - ficando sem ter o que fazer. Comemos oito fatias de pizza cada, tomamos um litro de Coca-Cola, enchemos os bolsos de Chokito e fomos para o hotel dormir, sem antes ouvir o Marcelo reclamar aos montes de que tínhamos que acordar mais cedo no dia seguinte (novidade, essa...).
Com o TCC tá difícil, gente, desculpa.
Essa ponte do rio que cai é de dar arrepior, hein! Também fiquei surpresa com a duração do pedal desse dia, haha! Vocês sempre terminam arrasados, acordam de muito mau humor, chegam tarde na cidade-destino... Agora quero ver esse último dia. Talvez tenha sido feliz pra vocês, mas pra nós, leitores, vai só plantar a vontade de ler o próximo relato!
Abração!
muito legal os relatos e parabéns á todos..!
grande abraço
Essa estradinha, serpenteando por meio das árvores, a visão do alto, tudo me faz lembrar a estrada da Serra do Mar, onde entrei num dia e saí no outro.
Muito legais as fotos. O relato então!... faz com que viajemos juntos com vocês. Parabéns, meus amigos e aguardemos o último dia, que nunca será o último, se Deus quiser!
Grande abraço!
Morei em Floripa muitos anos,mas era da escalada. Depois que meu filho nasceu tive adotar novas formas de fazer atividades fisicas, porque não consigo ficar parada muito tempo, entao...a bike.Comecei com um bem siples, coloquei cadeirinha pra levar meu filhote.Hoje dou umas pedaladas mais longas e claro com uma bike bem melhor!!!É realment viciante.Pena que aqui onde estou agora as mulheres sejam meio preguiçosas, então o jeito é pedalada solo mesmo. Abraços a todos!!!Adorei os textos...
Gostaria muito de fazer este passeio, espero que um dia eu possa, e quem sabe com a minha esposa... nada é impossível!
Obrigado pelas belas fotos.
em alguns momentos do relato, parece que vocês querem que acabe logo a cicloviagem? só phode ser o cansaço! kkkk
estamos acompanhando, aqui no MS!
abraços
Elton Xamã
QUE INVEJA . NO BOM SENTIDO É CLARO KKK.
A história de vcs vicia, parece um seriado: Sempre queremos o próximo episódio, e depois que chega ao fim, queremos um novo começo! ^^
Abraços!!