O sono era tanto que o decepcionante café da manhã pareceu nem ter gosto. Dos mais chinfrins que já nos foi servido, embora algo mais caprichado não teria feito diferença alguma. Sequer lembro o que tinha para ser ingerido e penso que teria sido muito mais proveitoso se eu tivesse permanecido no quarto dormindo por alguns preciosos minutos a mais. Tivemos uma ótima noite de sono, ainda que, mais curta do que gostaríamos. Até fez calor na silenciosa madrugada de Massaranduba, a exceção do aposento ártico em que dormimos. Alguém esbanjando sabedoria deixou o ar-condicionado ligado no modo “super-iglu” e beiramos o congelamento. Muito cansado e num quarto absurdamente escuro, o jeito foi ignorar a existência do controle remoto e se enrolar no edredom o máximo possível. Após o desjejum, Roberto demorou um pouco mais para sair do hotel e enquanto a criatura não aparecia, tentávamos entender a birra do nosso GPS por essa região. Com ladainha semelhante ao ano anterior, o desvairado brinquedo deixou de funcionar - nos deixando temporariamente às cegas. Aflitos logo cedo, custamos para aprumar nosso rumo e pelo menos de início, seguimos um pouco inseguros quanto à certeza de se estar pedalando pelo caminho correto.
Cruzamos o minguado trecho final da Capital Catarinense do Arroz com as ruas praticamente desertas. Ao alvorecer de um nublado domingo, numa temperatura bastante agradável, continuamos nossa divertida jornada ciclística seguindo em frente pela SC-474. Pedalamos por alguns poucos quilômetros num asfalto liso até entrarmos numa bela estradinha de chão, cruzando um pequeno vilarejo chamado Treze de Maio.
DIA 2) DE MASSARANDUBA À TIMBÓ – PASSANDO POR BLUMENAU (PORÇÃO RURAL), POMERODE E RIO DOS CEDROS...
Seguimos avante com a nossa aventura pedalando por uma sequência de vários trechos por diversas estradinhas rurais - ora quebrando para direita, ora quebrando para esquerda. Foram tantas bifurcações que se não fosse o até então malfado aparelho de GPS, jamais teríamos encontrado a saída do labirinto.
Rodamos pelo emaranhado de estradas por cerca de 30 km. Vagamos pela periferia de Blumenau até chegarmos à simpática Pomerode, um pouco depois do meio-dia. Otimistas em relação aonde poderíamos almoçar, passamos por vários restaurantes até que a cidade acabou e não paramos em nenhum. Voltamos um pequeno trecho por uma rua diferente e nos deparamos com algo no mínimo inusitado. Muita gente caminhando na rua e todos muito bem vestidos. Onde diabos essa elegante multidão estaria indo? – indagamos de forma curiosa e acabamos tendo a pior resposta possível para o momento... Estavam todos indo almoçar. Com os restaurantes praticamente lotados, inclusive com filas de espera e sem a menor vontade de voltar um considerável trecho pedalando buscando algum recanto mais calmo, tentamos a sorte seguindo em frente. Nesse ponto do pedal já estávamos atrasados e infelizmente tivemos que passar muito rapidamente pela bela cidade. Pomerode é conhecida como “a cidade mais alemã do Brasil”. Possui um dos zoológicos mais antigos do país (inaugurado em 1932) e uma conceituada cervejaria artesanal muito conhecida aqui em Santa Catarina – a Schornstein (ein Prosit!). Nas ruas, raramente se ouve a língua portuguesa, sendo mais comum o uso do idioma e dialetos germânicos. Agregando isso a toda arquitetura típica da região, com suas belas casas e seus jardins impecáveis - a sensação que temos é de se estar fora das terras tupiniquins, pedalando em outro país muito mais civilizado, habitado por um povo demasiadamente educado aonde não se vê um único papel de lixo jogado ao chão. Por fim, acabamos comendo um monte de porcaria numa lojinha de conveniência de um posto de gasolina qualquer - consolados com o fato de pelo menos não ter passado fome.
Deixando Pomerode para trás, continuamos nossa brincadeira por outro pequeno trecho de asfalto até entrarmos em também outra bela estradinha de chão. Desta vez, para o nosso infortúnio, sempre morro acima. Uma longa e exagerada subida que nos tomou muito tempo e consumiu quase toda a nossa energia. Essa região é bastante conhecida por quem faz cicloturismo. O Morro Azul faz parte do Circuito Vale Europeu e apesar das dificuldades que tivemos para subir, a longa e emocionante descida compensou todo o esforço anterior, ficando marcada como um dos pontos mais bacanas desta nossa cicloviagem.
Timbó - o nosso destino final, era logo ali à frente se seguíssemos para a esquerda, porém demos um grande balão pelo outro lado para podermos conhecer a pequena cidade de Rio dos Cedros. Depois de uma bela parada para respirar e admirarmos a beleza local, seguimos por mais 8 km em uma longa reta para finalmente encerrarmos o extenuante dia, já com os faróis das bicicletas ligados.
O hotel que ficamos era peculiarmente horroroso. O ser humano que nos recepcionou sequer sabia o que estava fazendo e quando algo estava ao seu alcance fazia tudo na maior má vontade possível. Fomos jogados no pior quarto daquela pocilga. O ar-condicionado não funcionava e quando coloquei o carregador da máquina fotográfica na tomada, esta explodiu!, fazendo faltar energia elétrica em todo o nosso andar. Para nossa felicidade, nesse meio tempo, o esquisito cidadão foi substituído por uma moça muito simpática que entre outras coisas nos transferiu para um quarto bem melhor. Os bizarros corredores desse hotel infernal eram impregnados com o horrível cheiro de cigarro. Parecia que mil pessoas fumaram ao mesmo tempo num local que só cabem trinta. Se o inferno tem cheiro, imagino ser algo muito parecido com isso. Tomamos banho e saímos o quanto antes para jantar. Estávamos no centro da cidade, perto de tudo e não foi difícil encontrar um bom local para comer. No quarto, nem ligamos a TV. Sabe-se lá o que poderia acontecer...
Segunda etapa concluída, mais cansados que no dia anterior, embora plenamente satisfeitos pelo extraordinário dia em cima das bicicletas.
Adorei a leitura! Imagino se fosse a pedalada!
Abç ao grupo!
Primeiro: a foto com as ovelhinhas ao fundo é hilária, de tão bucólica. Adorei!
Segundo: descida em estrada de chão? :O Eu tenho traumas com isso... Eu, não - a bicicleta, sim.
Terceiro: este último parágrafo de vocês superou qualquer outra descrição de pernoite que vocês já tenham feito. Francamente... Ligar o carregador da máquina e causar um apagão no andar do prédio é coisa de filme. Vocês podiam filmar uns trechos dessa viagem e fazer um curta... ahhahahahahha
Abrazos!!
Nem consigo imaginar o quão exaustivo possa ser pedalar por tanto tempo e em estradas irregulares infestadas de morros horrorosos, mas para a minha surpresa (e de muitos outros), os elogios com relação e essa etapa da viagem superaram as crísticas com relação ao caminho e a conflitos internos... o// Já li sobre suas viagens e ouvi muito da boca do próprio Rodrigo, e aqui me parece que este trecho foi incrível para todos! Continuem assim ;)
É triste quando pagamos para sermos mal tratados por comerciantes que acham que os clientes os atrapalham! Parece até que o hotel sobreviverá sem hóspedes para incomodá-los!
Show de pedal, parabéns!
Heresia!! Eu sei, eu sei...mas porque não
pensar no assunto. hhahahah
O hotel que ficamos era peculiarmente horroroso
Quando eu e o Doug fomos p RS d bike em 2005, no quarto dia d pedal pegamos uma pousada HORRIPILANTE toda d madeira com cupim em cima da cama. Tava tão quente q se abrisse a janela os pernilongos (tamanho d uma mosca kk) matavam a gente, e as janelas fechadas (sem ventilador) era uma sauna... RESUMINDO: 4:00 da manhã vazamos hehehe
buenas?
estive reparando nas 'chapas' e me lembrei como é diferente curtir a paisagem quando se pedala. Já passei dirigindo carro algumas vezes em regiões sabidamente bonitas, mas que só percebemos a verdadeira beleza quando pedalamos, sem pressa, curtindo o passeio. E isso percebe-se claramente nesses lugares que vcs passaram no segundo dia.
parabéns e abraços do
Elton Xamã - Pantanal MS