As duas criaturas desbastadas que preferem pedalar a ter que trabalhar, iniciaram sua nova marcha ciclística por terrinhas desconhecidas sem precisar surrupiar mais uma entediante jornada de labuta, pois era dia do Corpo de Cristo. Ao contrário do que o populacho pensa, Corpus Christi não é feriado nacional, embora tradicionalmente a vassalagem não costuma produzir bulhufas na referida data. Aproveitamos então o simpático e prolongado "feriado" para dar folga à família de nossas xaropeantes pessoas e seguimos estrada em mais uma minicicloviagem. Na dúvida para aonde ir, Angelina é sempre uma opção certeira e evitando insistir no “mais do mesmo” - optamos por tomar rumo em direção a abençoada terra via Antônio Carlos por um caminho diferente e bem cientes de que iríamos subir um bocado. Meio-dia, céu bonito, temperatura agradável, pneus cheios e alforjes carregados... restando apenas aquele Finish Line básico nas correntes para o início de mais uma divertida demanda. De barriga cheia do reforçado almoço, esticamos vagarosamente pela marginal da 101 com os narizes apontados para o norte e o sol mirando nossos cocurutos. Ainda que descompromissados com o tempo, a noite gelada que sabíamos que estava por vir de alguma forma preocupava e seria conveniente não chegar muito tarde na terra da Senhora Jolie. Trinta e tantos quilômetros até Anthony Charles para então fazermos a primeira parada providencial. Uma breve sentada à sombra para dar um tempo do desgastante sol enquanto reverenciávamos e bebíamos o líquido sagrado (Pepsi, para os infames hereges que desconhecem tal sabor), respondendo pacientemente os curiosos locais que perambulavam pela praça da igreja, incapazes de ver dois estranhos sujeitos largados ao quase relento sem ir azucrinar com perguntas sem sentido.
Aproveitamos descontraidamente a reta que nos restava para então penar por uma interminável subida de mais de dez quilômetros. De cabeça baixa, repensando a vida e tentando me convencer que a morreba nem era tão longa assim, acabei sendo premiado ao achar uma nota de 50 merréis dando bobeira no chão enlameado do morro do Egito. A primeira reação foi olhar para os lados e procurar a infeliz alma que havia perdido tal montante. Sentimos pena da desafortunada criatura, imaginando tamanha tristeza, pois nos minguados dias de hoje - cinquenta reais fazem falta em qualquer carteira. Há tempos que não avistávamos nenhum humano e pelo estado surrado da nota, já deveria estar vagando chão afora na direção que o vento sopra por alguns pares de dias. Janta garantida!, foi o que pensamos - guardando a nota com uma certa dó. Passados das 17h, começou a esfriar horrores e um pouco antes de escurecer paramos para fazer um rápido lanche. Sanduíche natural é quase de praxe nessas viagens mais curtas, ficando a novidade para o chá vermelho que levamos numa pequena garrafa térmica e que acabou ajudando a combater um pouco o frio exagerado que chegou repentinamente.
Bastante castigados pelo ar gelado que arranhava os nossos pulmões, seguíamos guiados pelo tranquilizante som das águas do riacho que ao lado nos acompanhava. Penamos um pouco no acentuado morro final, já sentindo o drama de uma noite passada mal dormida. Ancoramos em Angelina um pouco antes das 19 horas com a estranha sensação de sermos os únicos seres vivos do pacato lugarejo. Ruas escuras, comércio fechado e absolutamente ninguém perambulando no sereno da gelada noite. Naquele momento fazia 3 graus e encontrar semelhantes humanos sem sintomas de zumbificação no hotel foi um alívio daqueles. Rapidamente largamos as bicicletas no saguão do refeitório e atravessamos a rua correndo no intuito de ainda conseguir pegar a padaria aberta, pois nada mais funcionava naquele deserto disfarçado de cidade. Tempo apenas de comprar um misto-quente, pagar com a nota achada e escutar a porta sendo fechada nas nossas costas tão logo saímos da conveniência. Janta garantida com Chokito de sobremesa, restava apenas o merecido banho para depois se jogar na espaçosa cama e tentar descansar o suficiente para sofrer menos na jornada do dia seguinte.
Passam frio mas podem encher o peito e falar que pedalaram no Egito. Parabéns.
jedbike.com.br
Seg, 03 de novembro de 2014
Por: Éder Strutz
Realmente a subia do Egito não é nada fácil... Fico imaginando subir as pirambeiras do Egito com alforges!!!
Marcelo e Rodrigo encararam um grande desafio... pois além de subir o Egito e levar o peso dos Alforjes tinham que suportar o frio da região que não perdoa. Parabéns pelo esforço do primeiro dia de pedal... fico no aguardo pela continuidade do relato.
Abraços!!!
Seg, 03 de novembro de 2014
Por: Dorgivan Santos
fazer um baita pedal deste e além do mais, ser contemplado com um belo achado deste, somente os deuses de uma boa pedala para garantir um final feliz, que pena de quem perdeu, por que com certeza deu para gastar logo,logo! parabéns Nobre amigos! E dia 14/11 estarei chegando por ai..vou descer a serra da graciosa no dia 16/11 com o pessoal da Biker express de itajai..E vou levar minha família para conhecer o vale europeu por onde eu PEDALEI ANO PASSADO, ABRAÇOS E MUITO GRATO, POR ENVIAR ESSE BELOS RELATOS E FOTO SHOW!!