"Santa Pedalada"
Escrito por: Rodrigo Martins em 17/08/2010

Relegamos momentaneamente nosso caráter antissocial e arriscamos fazer algo diferente esse ano: pedalar em grupo! De alguma forma, pessoas chatas tendem a se identificar conosco e não sabemos lidar com isso adequadamente. Quanto mais simpaticamente tentamos demonstrar o nosso desgosto por essas criaturas, mais afeto elas demonstram ter por nós. Junto com a idade vem as várias manias e já não é fácil nos aturarmos – imagine então, pessoas que nem conhecemos? Não somos neurastênicos ou coisa parecida, mas realmente temos uma habilidade incomum para atrair esse tipo crescente de seres humanos: os xaropes crônicos. Resignados e sem saber mais o que fazer, aprendemos com o tempo que o melhor mesmo é evitar aglomerações desnecessárias, mas vez ou outra quebramos nossa corrente de isolamento social só para ver no que vai dar. Meio ressabiados, resolvemos prestigiar o belo evento realizado pelo Gean da Cicles Hoffmann. Sempre tivemos vontade de fazer uma viagem noturna, mas como não somos amigos do Cavaleiro das Trevas, nem nada – nunca tivemos coragem ou a falta de bom senso de arriscar, entretanto a ocasião era convidativa. Cento e tantos ciclistas rumo à Angelina num pedal noturno de 60 km. Realmente parecia bacana e acabamos abraçando a idéia. Chegamos em cima da hora ao local combinado. Tudo muito bem organizado com os ciclistas na maioria já posicionados, DJ desanimando o pessoal e sorteio de brindes e tudo mais. Um clima muito legal e contagiante.

Partimos todos logo após as 21h, numa aglutinação impressionantemente organizada. Vários carros de apoio e inclusive uma van que foi disponibilizada pela organização do evento para carregar a tralha do pessoal (mochila e coisas do tipo). Nós não precisamos, pois Fernando fez questão de carregar nossos pertences na estréia de seu alforje. Disse que era uma forma simplória de pagar um pouco de seus pecados, mas antes da metade do caminho, arrependido, percebeu que não fez tantas coisas ruins assim durante o ano.

Não iríamos pedalar na frente, logicamente. No meio, achamos até perigoso, pois havia muita gente concentrada. Não contei, mas havia no mínimo umas 120 bikes circulando. Deixamos o pessoal todo passar e iniciamos o pedal perto da rabeira.

A sensação é muito bacana mesmo. Todo o trajeto inicial teve o trânsito fechado e pedalamos exclusivamente por algumas das ruas e avenidas mais importantes da região.

A primeira meia hora de pedalada foi mais homogênea, depois disso o pessoal começou a dispersar e muita gente ficou pelo caminho. A Policia Militar fez um patrulhamento perfeito e garantiu nossa total segurança. Em São Pedro de Alcântara - 60 litros de Garotade Free foram disponibilizados para o pessoal do passeio. Esses isotônicos têm gosto de remédio, mas nenhum de nós (Rodrigo, Marcelo e Fernando e não a banda!) estava doente, então fomos buscar algo mais saudável. No único boteco aberto na cercania, nos esbaldamos na mais gelada das Coca-Cola...

Após a parada providencial, seguimos nosso rumo. Até aqui foi tranqüilo, reta e estrada calçada. A partir de São Pedro, só chão e morro acima. Essa pedalada é feita sempre na Quinta-feira Santa, aonde ocorre uma tradicional peregrinação ao município de Angelina. Muita gente faz o percurso a pé. O movimento é intenso e em vários pontos congestiona. Bikes, carros, meninas bonitas caminhando e as irritantes motocicletas – todos disputando o mesmo espaço. Uma desordem que de alguma forma funciona. Pelo caminho, vários voluntariosos distribuíam água gratuitamente.

Chegamos cedo, perto das 2h. A pacata cidade virou a maior algazarra. Muita gente contemplando a madrugada. Alguns com motivação religiosa e outros tantos apenas curtindo a festa, convivendo lado a lado com os fiéis e até onde vi – de forma harmoniosa. Passamos num posto, compramos refri e seguimos para o hotel das freiras (que certamente o Príncipe Roberto teria tido o enorme prazer de reclamar, caso não tivesse ficado de castigo trabalhando na Pizzaria). Precavidos, trouxemos uma arroba do mais delicioso pastel caseiro (obrigado Vanderléia!). Barriga cheia, banho tomado e sono tranqüilo. Acordamos novamente com o barulho daquele campanário fantasmagórico. Levantamos tarde, tomamos café e demos boas risadas da aventura da noite anterior para tão logo aprontarmos as coisas. Entre elas, trocar mais um pneu que “acordou” furado...

Despistamos um chato que nos apurrinhava, demos uma voltinha na praça para ver o movimento e perto das 11h iniciamos o segundo dia da pedalada, agora rumo à Águas Mornas.

Um mísero asfalto inicial para enganar os otimistas, seguido de uma infinita estrada de chão num sol escaldante.

Foi bem divertido o dia anterior e tudo correu perfeitamente, mas confesso que sentimos saudade de pedalar sozinhos e toda sua agradável calmaria.

Contrariando as previsões da produção do passeio que previu alguma coisa perto de neve pra região, fez um calor infernal!

Cada fragmento de sombra era recebido na mais pura alegria. Paramos várias vezes para descansar e tentar adivinhar onde diabos nós estávamos...

Em algum lugar por aqui, encontramos a bodega mais fedegosa da história. Um monte de gente feia e mal encarada, exalando suor, parecendo ter sangue nos olhos e que causava aflição só de pensar em olhar. Todos alegremente de cara amarrada, saboreando o mais nobre e autêntico Velho Barreiro. E para nós? Coca-Cola (não tinha Pepsi...), amendoim e salgadinhos genéricos do pior gosto possível. Infelizmente esse foi nosso almoço. Contudo saímos satisfeitos, pois afinal de contas, nenhum bronco ali encrespou conosco e não levamos nenhum tiro de bacamarte.

Essa estrada liga Angelina à Águas Mornas e passa por lugar nenhum. A única referência é que se você chegar à Rancho Queimado é por que definitivamente pegou o caminho errado.

O entardecer foi a melhor parte do dia. Penamos de verdade com o excessivo calor fora de época. Acho que 70% do trajeto é subindo, mas compensa pela duradoura descida.

E foi isso. Em águas Mornas visitamos nosso amigo Daniel que foi muito bem orientado para nos aguardar com uma Pepsi bem gelada. Trocamos uma boa conversa e aí o pianço veio. Ligamos para o Sr. Mazolla (nosso querido aprendiz de Alfred) e, já escurecendo, chegamos em casa. Por fim, lá pelas 20h tivemos nosso tradicional, merecido e verdadeiro almoço de Sexta-feira Santa...

Comentários
Sex, 27 de agosto de 2010
Por: elton40
hola, tchê!
aqui no MS o calor assusta de verdade...hehehehe...sei o que vcs passaram... Belo passeio,
abraços.
Qui, 19 de agosto de 2010
Por: Tuquinha
Caras!

Não sei o qué é melhor, se as fotos ou o relato, a gente literalmente se sente na bike pedalando junto e o lugar é "subidamente" fantástico!

Abraços!

Tuquinha - Biguaçu
Qui, 19 de agosto de 2010
Por: Waldson
Que passeio incrível! Nesses veranicos malucos eu adotei o refrescante pano molhado na cabeça... é simplesmente um bálsamo!

Belo passeio, ótimas fotos, parabéns!

Grande abraço.
Ter, 17 de agosto de 2010
Por: Osmar Tavares Junior
Simplesmente fantástica a cicloviagem!
que lugares show de bola!
só faltou uma foto do boteco!
Ter, 17 de agosto de 2010
Por: Jean Michel Torres
Muito bacana esse passeio. Lindas fotos.

Abçs